"Mas eu sei que alguma coisa aconteceu, está tudo assim tão diferente."
Eu cheguei ali, na beirada. O vento batendo em meus cabelos e o frio cortando minha pele enquanto eu estava borbulhando por dentro.
Olhei para baixo. Era só pular.
E eu não pulei. Continuei sentindo o vento e o frio, sem saber o que aconteceria. Era só pular, caralho! Eu fui covarde, confesso.
Tive medo, tive receio, tive confusão. Meu estômago revirava, minha cabeça dava voltas, minhas mãos suavam e minhas pernas tremiam. Eu sabia. Eu sempre soube.
Nada será como antes. Era só pular.
Dei as costas para o vale verde e florido com suas begônias exalando frescor e juventude enquanto meu corpo aquietava-se. Questão de tempo, tudo passa e esse tudo me faz esquecer tudo o que eu vi.
O vale. Era só pular.
Pela primeira vez eu não agi por impulso e pela primeira vez eu deixei que aquilo que eu trazia em mim se construísse por si só. Eu acreditava que isso faria com que suas bases fossem mais sólidas e me despi de meus conceitos, de meu orgulho, de minha bagagem. Eu só não esperava que as fundações dessa construção fossem tão voláteis. Eu não queria que fossem, eu desejei com quase todas as minhas forças que não fossem.
O desconhecido. Era só pular.
Chego a me estranhar por tamanha racionalidade travestida de impetuosidade. Enquanto eu me despia, me deixava ficar nua, eu me afastava. As cores já não são mais tão vibrantes, os cheiros já não importam, os sabores viraram mesmice, o toque já não arrepia e os sons tornaram-se uma canção de uma nota só.
Eu quis tanto. Era só pular.
Notei que não me importava mais tanto quanto antes. Eu tinha planos, tinha desejos, tinha expectativas... E minhas expectativas se demonstraram simples projeção, meus desejos passaram a ser meramente carnais e nos meus planos já não cabe você.
Era só pular, e eu fraquejei. Fraquejei porque o desconhecido e a incerteza não me seduzem mais.
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