sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O som do gelo no copo de uísque

É a última vez que protagonizo um monólogo aqui nesse chuveiro. Até quando vou ficar desse jeito? Com um choro engasgado na garganta que não sai nem fodendo e com essa vontade louca de ir até ela e tentar arrumar as coisas?
Por que faço tudo errado? Porra, se eu gosto dela, por que não admitir logo que sou um covarde, um moleque que não está preparado para encarar a vida? Eu não quero deixar de viver a vida boa, viver assim. Mas é uma opção e foi a minha opção agora.
Dói saber que ela está sofrendo, dói fazer certas coisas que faço com ela, mas é o inevitável agora. Preciso ser egoísta e me manter intacto mesmo sabendo o idiota que eu sou.
Sei a grande merda que vai acontecer e sei também que ainda há tempo de resolver as coisas. Eu não consigo. Por mais que eu tente eu não consigo deixá-la em paz, na verdade, ela não consegue me deixar em paz e ela também adora uma auto-tortura. Não quero gente louca ao meu lado, mas não queria machucá-la. Eu a quero, mas não agora, não dessa forma. É difícil assumir isso para todos. Minha cabeça está um furacão e com isso eu só faço merda.
Enquanto estou aqui deixando que a água lave a minha alma, tem uma vadia qualquer na minha cama. Eu precisava de sexo hoje, precisava esquecer de tudo, mas não consigo. Ela me ligou agora há pouco, desliguei na cara dela. Filha da puta! Eu estava para gozar e ela liga perguntando se estou ocupado. Ocupado é o caralho, eu queria gozar e ela surge. Para a puta que pariu tudo! Brochei. Por que também não me deixa em paz? Tentei explicar que preciso de espaço e que não quero isso agora. Sei que estou fazendo merda. Mas quando ela vai aceitar isso?
Eu jamais vou admitir que estou errado. Foda, porque eu sei que estou. Eu me cobro porque não quero errar, me cobro porque estou confuso. Eu também não entendo mais porra nenhuma, eu era o primeiro a dizer que queria casar com ela e que queria estar com ela. Eu quero muito isso porque eu sinto algo por ela que nunca senti antes. Tenho vontade de sair por aí, isso me dá um medo do caralho. Não posso errar. Mas quem disse que eu não posso errar? É foda. Cobro tanto ser perfeito que errei demais. Não deveria mesmo fazer isso, ela é uma princesa, cara, ela é. Mas sabe o que é terrível? Ela tirou a minha autonomia, ela tirou a minha masculinidade, sei lá, pareço tão pouco perto dela. Porra, ela é inteligente, dedicada, esforçada, consegue tudo o que quer, além de ser bonita e fazer tudo bem feito. Tinha vezes em que olhava para ela e não sabia se era um sonho ou se era realidade, mas aí a realidade veio à tona. Eu não posso ficar para trás, não posso aceitar que uma mulher me domine assim, que seja melhor do que eu e sei que é o que parece. Gosto dela, cara. Gosto dela até demais e isso me mata. É foda saber que tenho ali no quarto uma bunda ao invés dela. Nada se compara ao cheiro, ao jeito carinhoso de olhar e de me pedir mais um beijo. Nada se compara. Mas eu não posso mais. Sei que um dia posso me arrepender, mas se isso acontecer, ela jamais saberá. Sou homem, homem não se arrepende.
Cara, cadê o que eu era? Não me vejo mais. Será que as cervejas que aquela vadia trouxe aqui me deixaram bêbado? Não, não é possível. Onde estou? Onde fui parar? Não saber amar foi tudo o que aprendi com a vida e assim rejeito o que eu mais quero dela. Meu celular está tocando, ultimamente é a única coisa que tem acontecido comigo e é sempre ela. Foda-se, não vou atender, ela vai perguntar todas as mesmas coisas e vai me fazer ficar irritado, vai me machucar e eu não suporto mais. Preciso me livrar dela e comecei por hoje. Tenho ali no quarto, estirada na cama, uma vadia gostosa que vai me satisfazer nesta noite. Vou suprir a falta dela comendo quantas eu puder, essa sim é uma boa idéia. De volta à antiga vida.
...
Pois é, vai me satisfazer, mas, e depois do sexo? Eu tomo mais uma dose e caio na rotina.

Vida de merda, por que gostar precisa ser tão difícil? Eu sou uma merda humana.

Coloco agora um ponto nisso tudo. Estou semi-nu, estou sempre semi-nu perto daquela maldita, ela sabe me desmascarar como ninguém e para mim já chega. Preciso de garotas acéfalas por perto. Quem será a próxima? Deixa eu ver meu MSN.



Passageiro de viagem sem destino

Despertador tocou. Banho, café, sono. Apenas mais um dia como qualquer outro, dirigindo pela cidade. Ruas e estradas transbordando gente como um caldeirão fervendo transbordando água.
O guardador de carros magricela da rua onde trabalha, ao vê-la, logo percebeu algo: estava apagada.
A cada passo parecia que sua pele, já branca, se tornava transparente e seus órgãos pareciam se derreterem com o calor do sol.
Um pedaço de cabelo caiu. Subiu a escadaria, bateu o portão e saiu em direção à sua mesa, sem notar que já não podia falar. Estranhamente a indiferença dos outros a silenciara por completo.
Durante o dia estafante de tarefas que exigiam mais do que podia ceder, foi perdendo suas partes. Perdeu a parte sensitiva, mãos. Depois, assistiu à queda de seus cabelos longos, o que já não era novidade, e perdeu sua beleza. Então chegou a vez de perder os sons e as cores. O cérebro já havia se derretido por pensar demais, eram noites e noites mal dormidas, sem nada, apenas a luz da rua e uma parede.
17 horas. Enquanto as outras partes se agonizavam por ainda restar uma hora de ar condicionado e papéis, ela já era toda coração. Sangrava em cima da mesa, esperando por alguém que pudesse juntá-la os pedaços, assim, servindo de adubo à terra.
Quem sabe pudesse crescer ali algum fruto exótico e doce, se alimentando de amor aos pedaços. Talvez guardassem-no numa caixa de papelão para colocá-lo na estante e encher o gordo ego de orgulho por ter tido o que poucos tiveram. Ou ainda, quem sabe, a moça da faxina jogasse fora por tê-lo confundido com outra coisa qualquer, e então, fosse parar num saco de lixo, reciclado, seminovo, eternamente marcado.

A efemeridade da vida não traduzia com exatidão a rapidez dos atos dela.

Seus sonhos não eram irreais. Sonhara com o possível, bastava abrir a porta ou enterrar seu coração.





quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Apaguem as luzes, por favor

A mulher de branco tenta me fazer engolir algumas pílulas, mas eu não quero. Tudo o que eu quero é sair desse lugar. Maldita enfermeira, quero que ela e os remédios dela fodam-se.
Eu não sou nenhuma maluca para ficar aqui, trancada entre almofadas brancas com esse avental ridículo que me deixa quase descoberta. Mas sei bem que é essa luz intensa que me enfurece.
O saquinho com líquido transparente acoplado ao meu braço mostra que ainda há algo nas veias. Quase sempre, sem ter o que fazer, gosto de olhar as gotas caindo como uma incessante ampulheta. O que esta ampulheta não sabe é que não é mais sangue que corre nessas veias. O coração morreu faz tempo, já não bombeia mais. Minha respiração é mero reflexo.

Preciso sair daqui, mais nada. Onde está a janela? Não existe mais contato com o mundo exterior.
Ninguém notaria que eu desapareci. No máximo, algumas pessoas confabulando a respeito da minha bunda aparente através do avental.

Só quero respirar, ser livre. Esquecer que isso tudo me asfixia.




Pensar nunca me leva a nada. Desde que cheguei aqui tive muito tempo pra pensar e nunca cheguei à qualquer conclusão decente. Então, paro de pensar. Quero ser burra. Quero ser cega, surda e muda. Assim deixo de perceber as sombras que me rondam.

Voltei a sentir o corpo tremelicar. Não sinto frio, nem calor, nem nada. Não sinto. Talvez seja o remédio, talvez seja a falta dele, talvez seja a indiferença.

Cadê os meus psicotrópicos?

Sorvete!

Finja que o padrão de um símbolo de afeto é segurar na mão e tomar sorvete juntos. Mas o outro fica constrangido em segurar muito tempo a mão pois tem hiperidrose e intolerância a lactose.



Ela só queria que ele parasse de só tomar sorvete de doce-de-leite e experimentasse o pistache...

[lendo vários contos do Anônimo Incógnito, mas este e este, especialmente]


terça-feira, 17 de novembro de 2009

KCl

A vida se trata de símbolos: o carro que dirigimos, a casa em que vivemos, as roupas que vestimos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Essa da[va] um caldo

Não faço o tipo de mulher ciumenta-neurótica-possessiva-psicótica. [in]Felizmente sou aquele tipo que não esquenta a cabeça... até sentir o cheiro da maldade. Talvez devido à minha larga experiência com homens canalhas, seja sendo ficante, namorada, noiva ou a outra [sim, tenho um extenso currículo com homens com namoradas, noivas, esposas ou até mais amantes], aprendi a perceber a maldade alheia com altíssima eficiência.

Não pensem que preciso de evidências gritantes como mensagens calorosas ou comentários maliciosos. Apenas um olhar, uma inspiração ou uma mensagenzinha à toa são suficientes para eu ver de onde vem a fumaça.

Mas o pior tipo é aquela 'amiguinha' que nunca foi relevante e de repente começa a se importar em manter contato [sim, bem pior do que ex-namoradas-esperançosas!]. Mas o ponto crucial nem é o contato em si, e sim a forma aparentemente despretensiosa com que eles aparecem, mas carregado de maldade. Sabe o que é pior nesse tipo de garotinha? É que a intenção delas nem é fisgar o namorado alheio, e sim apenas causar certa desarmonia para mostrar que são as donas do galinheiro.

Vulgares, demoram a entender que são apenas aves granjeiras numa área limitada. Apenas procuram meios de demonstrar desrespeito pela relação do 'amigo'. Esquecem que o fazendeiro gosta é de galinha ao molho, para degustar junto da sinhazinha.



1) #prontofalei.
2) Adoro fazer galinha assada com tempero mineiro.
3) Não gostou? Então é pra você mesma. Adoro! =D

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Completa[mente]

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce.

O tempo é outro.

E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende a ver. Tem gente que tem cheiro de colo. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Tem gente que tem cheiro das estrelas que acendem no céu e daquelas que conseguimos acender na terra.

Ao lado delas a gente não acha que o amor é possível.

A gente tem certeza.



Ah, a tecnologia!

Lembro quando você apareceu. Egocêntrico, egoísta e orgulhoso. E ainda assim, apesar da antipatia imediata, algo me movia a manter contato com você. Meu maldito ego egocêntrico.

Num dia, de repente, você deixou de ser tão antipático. Conversou banalidades, interessou-se pela minha vida, me fez rir. E eu, do outro do lado, também me interessei pela sua rotina, pela sua história, por quem você era.

Me apaixonei por pixels em movimento e uma voz no fone de ouvido.

Estes pixels estão agora ao meu lado, me carinhando todas as manhãs, cantando eventualmente, encrecando esporadicamente... mas sempre aqui. Ao meu lado.

Isso é amor?