Despertador tocou. Banho, café, sono. Apenas mais um dia como qualquer outro, dirigindo pela cidade. Ruas e estradas transbordando gente como um caldeirão fervendo transbordando água.
O guardador de carros magricela da rua onde trabalha, ao vê-la, logo percebeu algo: estava apagada.
A cada passo parecia que sua pele, já branca, se tornava transparente e seus órgãos pareciam se derreterem com o calor do sol.
Um pedaço de cabelo caiu. Subiu a escadaria, bateu o portão e saiu em direção à sua mesa, sem notar que já não podia falar. Estranhamente a indiferença dos outros a silenciara por completo.
Durante o dia estafante de tarefas que exigiam mais do que podia ceder, foi perdendo suas partes. Perdeu a parte sensitiva, mãos. Depois, assistiu à queda de seus cabelos longos, o que já não era novidade, e perdeu sua beleza. Então chegou a vez de perder os sons e as cores. O cérebro já havia se derretido por pensar demais, eram noites e noites mal dormidas, sem nada, apenas a luz da rua e uma parede.
17 horas. Enquanto as outras partes se agonizavam por ainda restar uma hora de ar condicionado e papéis, ela já era toda coração. Sangrava em cima da mesa, esperando por alguém que pudesse juntá-la os pedaços, assim, servindo de adubo à terra.
Quem sabe pudesse crescer ali algum fruto exótico e doce, se alimentando de amor aos pedaços. Talvez guardassem-no numa caixa de papelão para colocá-lo na estante e encher o gordo ego de orgulho por ter tido o que poucos tiveram. Ou ainda, quem sabe, a moça da faxina jogasse fora por tê-lo confundido com outra coisa qualquer, e então, fosse parar num saco de lixo, reciclado, seminovo, eternamente marcado.
A efemeridade da vida não traduzia com exatidão a rapidez dos atos dela.
Seus sonhos não eram irreais. Sonhara com o possível, bastava abrir a porta ou enterrar seu coração.
O guardador de carros magricela da rua onde trabalha, ao vê-la, logo percebeu algo: estava apagada.
A cada passo parecia que sua pele, já branca, se tornava transparente e seus órgãos pareciam se derreterem com o calor do sol.
Um pedaço de cabelo caiu. Subiu a escadaria, bateu o portão e saiu em direção à sua mesa, sem notar que já não podia falar. Estranhamente a indiferença dos outros a silenciara por completo.
Durante o dia estafante de tarefas que exigiam mais do que podia ceder, foi perdendo suas partes. Perdeu a parte sensitiva, mãos. Depois, assistiu à queda de seus cabelos longos, o que já não era novidade, e perdeu sua beleza. Então chegou a vez de perder os sons e as cores. O cérebro já havia se derretido por pensar demais, eram noites e noites mal dormidas, sem nada, apenas a luz da rua e uma parede.
17 horas. Enquanto as outras partes se agonizavam por ainda restar uma hora de ar condicionado e papéis, ela já era toda coração. Sangrava em cima da mesa, esperando por alguém que pudesse juntá-la os pedaços, assim, servindo de adubo à terra.
Quem sabe pudesse crescer ali algum fruto exótico e doce, se alimentando de amor aos pedaços. Talvez guardassem-no numa caixa de papelão para colocá-lo na estante e encher o gordo ego de orgulho por ter tido o que poucos tiveram. Ou ainda, quem sabe, a moça da faxina jogasse fora por tê-lo confundido com outra coisa qualquer, e então, fosse parar num saco de lixo, reciclado, seminovo, eternamente marcado.
A efemeridade da vida não traduzia com exatidão a rapidez dos atos dela.
Seus sonhos não eram irreais. Sonhara com o possível, bastava abrir a porta ou enterrar seu coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário