sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sonhos dão trabalho...

"Procure entender que eu quebrei dentro de mim coisas muito mais importantes, e estou feliz por isso."

Mas cavaleiros andantes sempre partem de repente, e as donzelas esperam, derramando lágrimas, por dias sem fim à janela, olhando o horizonte em busca de um sinal ou de uma esperança.

A tristeza sempre está esperando no final de qualquer história.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


"Está na moda a misantropia. E a misantropia anda de mãos dadas com a falta de estima.

Faz parte da nossa natureza, a natureza humana, esta quimera num labirinto de espelhos, insistir no erro; por teimosia, paixão, desejo, imaturidade; a nossa arrogância em acreditar que somos capazes de transformar alguém, a crença de que podemos ser salvos pelo amor, por alguém que nos faz sentir amor e que nosso amor é capaz de salvar este alguém.

Não há salvação. Há desencanto, desilusão, desentendimento; a comunicação deixa de ser direta, as palavras começam a ser medidas; os silêncios, constrangedores. E as brigas, constantes. Afastar-se é natural, o que gera a raiva,  a mágoa, o ressentimento citados no segundo parágrafo. É necessário ter sensibilidade para saber a hora de tirar o time de campo. E todo desfecho é dor no volume máximo.

Superar o desencanto, a desilusão, o desentendimento é o que fortalece uma relação e a nós mesmos; porque somos todos loucos, temos nossos momentos de loucura e o direito de tê-los; somos incapazes de poupar os nossos desta indulgência. Aquilo que nos faz atraentes às vezes é o que nos torna repulsivos, o contrário também se aplica.

Não estou escrevendo sobre loucuras patológicas, para estas existem tratamentos e acompanhamentos diferenciados. O amor não cura, tampouco salva alguém destes males. Não insista.

(...)

Já este eu que vos escreve, não empresta. É imprestável."

** Retirado sutilmente do Coisa de Homem

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Pequenas porções de ilusão

Lia acordou no sofá. Olhou para os lados – e tudo estava igual. Ou quase.

Havia algo diferente nas cores e nos cheiros. Tudo se encontrava em tom pastel e cheirava a naftalina. Ainda podia sentir um pouco de lavanda ao fundo, mas a naftalina era predominante.

Lembrou-se dos dias anteriores, quando as cores começaram a se apagar. Primeiro o verde-limão, depois o laranja, o amarelo-ouro, o azul turquesa e, finalmente, o vermelho. E o cheiro? Aquela lavanda inebriante, quase almiscarada foi desaparacendo, enquanto o cheiro de coisa velha se impregnava em seus poros.

Teve uma sensação estranha. Havia algo sobre seu corpo, minúsculo. Haviam vários 'algos minúsculos'. Incomodantes. Perfurantes. Sujos.

Levantou-se e deu algumas batidinhas pelo seu corpo. Todos os algos caíram – ou pelo menos a sua maioria.

Decidiu-se por um banho e dirigiu-se à banheira. O cheiro de naftalina não vinha dela, estava certa disso. Era algo que inundava o ambiente. No caminho para o banheiro, mais algos pelo chão.

Desistiu do banho.

Não lembrava ao certo quando as cores se apagaram, quando o cheiro aparecera. Esforçava-se, mas o que lhe vinha à mente eram eventos desconexos que sequer pertenciam a ela.

Interessou-se pela quantidade de algos espalhada pelos cômodos de sua casa, e notou que formavam um rastro. Seguiu-o por todos os lados, passando pela garagem, varanda, jardim... até que viu que terminavam na entrada do quarto, em sua cama.

Deitou-se e percebeu. As cores, o cheiro, a falta. Tudo culpa delas. Tantas e tão pequenas que não conseguiria se livrar. Tantas e tão pequenas... mas foram um presente, dadas sinceramente, e de coração.

Eram migalhas.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Reticências

Ele a olhava com aqueles olhos semicerrados, velhos conhecidos. A olhava e agradecia por tê-la ao lado, com sua manias, seus vícios, sua risada, seus turbilhões.

A voz grave, a respiração pesada. O ritmo cardíaco aumentado. Sim, ele sabia. Ele sentia.

Nunca poderia amá-la como esperado.

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Ela o olhava com aqueles olhos brilhantes, úmidos. O olhava e pensava em como era bom ter alguém como ele, que a mimava, a queria bem, esforçava-se por ela.

O abraço apertado, o beijo quente. As mão entrelaçadas. Ela também sentia, mas demorou um pouco pra entender.

Ele nunca a amaria como ela gostaria. Mas ela sabia que o esforço dele pra fazê-la feliz era grande. Por isso ela aceitava aquilo que ela não podia mudar.

Dele pra ela




Quebra Cabeça
(Engenheiros do Hawaii)

Pode ser pra sempre
Pode não ser mais
Pode ter certeza e voltar atrás
Pode ser perfeito
Fruto da imaginação
Pode ter defeito de fabricação

Tá faltando peça no quebra-cabeça
Eu não tenho pressa
O meu tempo é todo teu
É tudo que eu posso oferecer
É pouco
Mas é tudo que eu posso oferecer
É quase nada
Mas é tudo que eu posso oferecer

Pode estar no ponto
Ponto de interrogação
Pode ser encontro ou separação
Pode correr risco
Arriscado sempre é
Só não pode o medo te paralisar

Tá faltando peça no quebra-cabeça
Eu não tenho pressa
O meu tempo é todo teu
É tudo que eu posso oferecer
É pouco
Mas é tudo que eu posso oferecer
É quase nada
Mas é tudo que eu posso oferecer
É pouco
Mas é tudo que eu tenho

Tudo que eu posso oferecer

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Deixa o Sol Bater na Cara


Não sei ao certo a história de vocês, nem as circunstâncias em que vocês romperam. Também não é da minha conta, afinal, é passado. O que passou está morto – e não se levanta mais.

A questão maior foi a sua reação apenas por ele entrar em contato. Eu estava ao lado dele durante a conversa de vocês. Eu o incentivei a entrar em contato com você. Achei que seria, no mínimo, de bom tom; e demonstraria respeito ao tempo em que passaram juntos.

Me surpreende que alguém que vê a vida como você, aja dessa maneira, egoísta e centralizada; especialmente em relação a alguém que um dia foi importante na sua vida e a contatou sem cobranças, sem diferenças, apenas para garantir a sua boa saúde.

Essas palavras podem soar apenas 'balela' aos seus olhos, mas eu tinha que escrever. Lição de moral? Talvez. Mas é sempre importante lembrar que, pelo menos depois dos 25, é primordial encarar a vida de um ângulo mais adulto.

Lembre-se: estamos neste mundo, nesta existência apenas essa vez, e não haverá outra. Por que então não se livrar de sentimentos baixos e encarar a vida como ela é – incrível? Largue mão do seu passado, siga adiante – e deixe que os outros sigam também. Todos merecemos.

Dê-se a chance de ser uma pessoa ainda mais feliz sendo amável com o próximo, independente de quem seja.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Bairrismo [ou burrismo?]

** Faz muito tempo que estou para escrever este texto. Como paulista casada com um gaúcho, muitas vezes as sombras da cultura regionalista dele me ferem. Não como paulista, mas como pessoa. **


Os gaúchos tem milhares de qualidades, mas são sim o povo mais bairrista e ufanista (não xenófobo) do Brasil. A questão é: isso é bom? O José pode achar que sim. Já eu acho que todo aquele culto à bandeira, todo aquele modo de falar dos pampas como se fosse uma religião, muito denso e perturbador.

Acredito que isso se deve ao regionalismo e a diferença entre povos de regiões próximas. As pessoas em geral tem necessidade de se afirmarem melhores que outras, e os gaudérios fazem isso enaltecendo sua terra, sua cultura e sua história. É um orgulho bobo, já que tudo isso não é mérito de nenhum deles.

Mas os gaúchos tem isso enraizado em sua cultura. Consideram-se um povo marginalizado, longe demais do resto do país. Vítimas de piadas, preconceito e segregação. Mas não percebem que eles mesmos se colocam nessa posição, esquecendo-se que, antes de gaúchos, eles fazem parte de uma coisa maior. Ainda assim, fazem questão de levantar a bandeira tricolor, cantar o Canto Alegretense a plenos pulmões, e não percebem que eles mesmos se colocam como minoria e acabam se apoiando nas muletas de um preconceito inexistente.


Minha única bandeira é a liberdade. Defendo o direito de todos poderem dizer e fazer o que quiserem (desde que não prejudiquem outros, claro) e isso inclui o direito de se ter prazer de dizer de onde é, e não um orgulho cego e sem fundamento.

Às vezes, andando pela rua, observo as pessoas trabalhando, vivendo, amando e fico maravilhada, apreciando em êxtase a beleza da vida humana. Outras vezes, fico chocada com as pessoas. Será que somos realmente da mesma espécie? Será que eu sou mesmo tão diferente assim?

Os comentários de alguns, o ódio, o protecionismo, a insegurança cultural, o medo do outro, o ufanismo, são exemplos de como as pessoas andam algemadas a preconceitos profundos, cada vez mais pequenas e mesquinhas, seu pensamento distorcido e embotado por doenças culturais como o bairrismo.

Parece que algumas pessoas só conseguem raciocinar em termos tribais, pequenos, limitados. Um discurso universal, humanista, libertário, que tenta pensar nossa espécie como um todo, é algo aparentemente tão radical que elas não discordam: nem apreendem.

Enquanto o mundo caminha numa direção em que se fala cada vez mais em termos gerais e universais, ainda existe gente que enxerga tudo num ângulo específico e bairrista.

Eu amo todos os seres humanos. Eu não sou paulista, eu não sou brasileira. Eu sou humana.

Estou cansada de pensamentos pequenos, pessoas mesquinhas, leis tribais. Eu sou brasileira, eu sou paulista, eu sou gremista, eu sou budista... Que mundo é esse?! Será que não tem ninguém nesse salão pra dançar comigo?

Quem me dera encontrar outra pessoa, só uma outra pessoa, que me dissesse: eu não sou nada, eu sou só o Paulo, a Cláudia, o João, um animal humano, à vontade entre todos os povos, sempre sozinho, sempre acompanhado, que pertence a todos os grupos e não pertence a nenhum.


Nossa cultura sabe cuidar de si mesma. Os membros individuais dela, aparentemente não.

Eu não quero que concordem comigo. Eu não quero ter discípulos. Eu não quero nem mesmo convencer ninguém. Tudo o que eu quero é mostrar uma via alternativa.

Tudo o que eu quero é abrir os seus olhos, nem que apenas por um segundo, nem que você discorde de mim, para o fato de que o mundo, como ele é hoje, não é uma construção unânime.

Existem vozes dissidentes, existem pessoas que pensam diferente, existe a possibilidade de viver uma outra vida, sem mesquinharias, tribalismos, religiões, maniqueísmos, preconceitos, prisões. Mais ainda, sem esqueminhas mentais dogmáticos e pré-fabricados, que almejam explicar tudo com suas formulinhas, mas que só conseguem embotar o pensamento humano, como o marxismo e o cristianismo.

Ser pequeno, mesquinho, preconceituoso, ressentido, invejoso, tudo isso é muito fácil. E muito tentador.