Lia acordou no sofá. Olhou para os lados – e tudo estava igual. Ou quase.
Havia algo diferente nas cores e nos cheiros. Tudo se encontrava em tom pastel e cheirava a naftalina. Ainda podia sentir um pouco de lavanda ao fundo, mas a naftalina era predominante.
Lembrou-se dos dias anteriores, quando as cores começaram a se apagar. Primeiro o verde-limão, depois o laranja, o amarelo-ouro, o azul turquesa e, finalmente, o vermelho. E o cheiro? Aquela lavanda inebriante, quase almiscarada foi desaparacendo, enquanto o cheiro de coisa velha se impregnava em seus poros.
Teve uma sensação estranha. Havia algo sobre seu corpo, minúsculo. Haviam vários 'algos minúsculos'. Incomodantes. Perfurantes. Sujos.
Levantou-se e deu algumas batidinhas pelo seu corpo. Todos os algos caíram – ou pelo menos a sua maioria.
Decidiu-se por um banho e dirigiu-se à banheira. O cheiro de naftalina não vinha dela, estava certa disso. Era algo que inundava o ambiente. No caminho para o banheiro, mais algos pelo chão.
Desistiu do banho.
Não lembrava ao certo quando as cores se apagaram, quando o cheiro aparecera. Esforçava-se, mas o que lhe vinha à mente eram eventos desconexos que sequer pertenciam a ela.
Interessou-se pela quantidade de algos espalhada pelos cômodos de sua casa, e notou que formavam um rastro. Seguiu-o por todos os lados, passando pela garagem, varanda, jardim... até que viu que terminavam na entrada do quarto, em sua cama.
Deitou-se e percebeu. As cores, o cheiro, a falta. Tudo culpa delas. Tantas e tão pequenas que não conseguiria se livrar. Tantas e tão pequenas... mas foram um presente, dadas sinceramente, e de coração.
Eram migalhas.
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