Valéria não conseguia mais se imaginar sem aquelas pessoas. Tão próximas, tão companheiras. Mais uma reunião de amigas. Regada a vinho, cerveja, cigarros, fofocas, risadas. Conversavam animadamente, trocavam receitas, umas faziam as unhas, outras ouviam música.
Seu namorado chegou. Passava a dividir a atenção entre as amigas e ele, nada demais. Sentimentos mistos: carinho, vontade, amizade, tesão. Depois de algumas horas, seu namorado se foi, mas as amigas continuavam lá. Falando sobre o último capítulo da novela, o cabelo de fulana, o relacionamento de beltrano.
Foi surpreendida com a chegada de alguém quase alheio. Até então. Sem bater na porta, sem aviso. Apenas chegara, deixara um recado e partira. Valéria entendeu o motivo e deu um sorriso de satisfação. Já estava tentando forçar aquele tipo de situação há algum tempo.
Dali mais um pouco, nova visita. Já sabia tudo sobre aquela outra pessoa: seus gostos, seus sonhos, seus desejos. Já conhecia inclusive sua família.
Avalanche de informações. Seu universo confrontado. O mundo começava a desabar. Fora descoberta, mas não aceitava isso.
Seu RG era o orkut e seu diário, um blog. Antivírus para o sexo, sem cheiro e sem toque. Fotos em print screen.
Não aceitava que vivia de amizades desdobradas em pixels. Que julgava o orkut de uma pessoa a chave para seus segredos, que assistia à vida passar pelo Facebook. Que se apaixonara por uma webcam e que o príncipe encantado na verdade evitou a realidade ao passar tão perto e sequer acenar.
Esquecera da realidade, perdida em seu desvio psicológico.
O HD queimou. E se viu sozinha. Perdida, desamparada.
Tadinha, enlouqueceu.
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