Cheguei no primeiro grande evento. O Natal.
Hoje eu gostaria de estar apenas em dois lugares: ao lado do meu pai e da minha filha ou ao lado do homem que estou amando. E estou em casa. Sozinha.
No último final de semana eu pesquisei muito sobre formas de suicídio. Buscando uma forma indolor, optei pela morte doce e encontrei dois métodos viáveis até então - meu carro quebrou e não liga, o que me impede de fazer da forma menos trágica e dramática.
Eu queria conversar com as pessoas que me são queridas sobre isso, então andei deixando algumas dicas sobre a minha intenção. Percebi que suicidas não falam abertamente sobre suas pretensões para que não sejam impedidos. Eu não quero que alguém me impeça, mas tenho um forte desejo de que algum tipo de milagre me aconteça e me faça sentir que ainda vale a pena estar por aqui.
Eu esperei por um milagre específico durante toda a última semana, eu pedi abertamente por ele. Pedi para o homem que amo me salvar nas festividades de fim de ano. Bastavam três palavras: "Quer ir comigo?" ou "Fico com você."
O milagre que esperei não aconteceu.
Hoje é véspera de Natal e eu não estou conseguindo entender minha cabeça. Estou confusa, como se estivesse bêbada, entorpecida. Não tenho vontade de fazer nada nem de encontrar ninguém. Não consigo manter o foco em uma atividade, já tive crises de choro e de ansiedade.
Não sei se quero sobreviver à noite de hoje.
Tenho os remédios aqui. Tenho as sacolas plásticas. Tenho a coragem. Alguns dizem que não é coragem, e sim covardia. A minha covardia é de continuar vivendo uma vida insossa, sem objetivos e sem motivações. Eu acordo todos os dias porque meu corpo me obriga e me alimento porque sinto fome. Tenho tomado meus remédios, cuidado da minha aparência e ido ao trabalho porque não quero que ninguém desconfie dos meus planos. Não para me impedir.
Ninguém tem culpa disso. Nem as pessoas que percorreram a minha história e nem eu mesma. Quem tem culpa disso é a vida mesmo. A vida que me faz sentir vilipendiada, incompreendida e descartada.
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