segunda-feira, 31 de maio de 2010

"Suplico que não me mate dentro de ti"

Prepare-se para me odiar pelo resto da sua vida. Foram dias e noites inquietos, brigas causadas quase que de propósito e acusações infantis. Mas chega uma hora em que reclamar não é o suficiente.

Dentre todos nossos erros nessa estrada longa, sinuosa e esburacada que é a nossa história, estou certa de estar evitando o maior deles, que é morar junto de você novamente, como programamos, como sonhamos. As coisas mudam. Não que nossa relação seja uma mentira, mas nos esquecemos de dizer a verdade. E a minha é que já faz algum tempo que tenho me sentido miserável.

Eu tomava banho e ia dormir cedo. Limpa por fora e emporcalhada por dentro, cheirando a pêssego e insatisfação. Você se sentia enfraquecido, sentia-se castrado e sem brechas para realizar seus desejos na cama. Eu me queixava de solidão, apesar dos seus gestos, dos restaurantes, das louças e dos carinhos. Eu chorava no quarto enquanto você batia punheta diante de dois peitos, que mais pareciam filiais da Parmalat, na tela do computador.

Sua masculinidade é medida em píxels e você sente o fel da testosterona.

Dessa forma, você se conforma que sou chata. Acreditava que era apenas mais uma fase ruim e estava certo de que nosso amor prevaleceria. Só consegue pensar em mim chupando um outro pau em busca de amor ao ler essa frase. Você planeja reativar o cadastro de periguetes. Resolve me dar um tempo para pôr em lógica minhas irracionalidades.

Erros sobre erros.

Eu só queria que você ficasse. Queria que você me desafiasse. Queria sentir o calor do teu peito nas minhas costas macias.

Eu precisava que você admitisse que havia um problema, um desconforto, um vício, um perigo, uma crise. Queria que você atravessasse junto de mim.


Eu estava lá, por você, limpa, sua, implorando pelos seus carinhos, suas risadas, seus agarrões. Esperando por magia, ilusões, um beijo de hortelã misturado com meu gosto pela manhã. Esperava que você relembrasse a promessa de não sermos um daqueles casais que jantam em silêncio e que fazem escândalo por uma saia curta.

Queria que você desligasse a televisão, o computador, lavasse minhas costas, não soltasse da minha mão. Queria que você tivesse perdido o medo, os nódulos, o cheiro de velório, as estribeiras, os métodos, o orgulho, a razão.

Eu sei, toda paixão tem seu fim e nem sempre fica o afeto, o respeito ou o companheirismo. Deus sabe o quanto meus olhos misturam decepção, ódio e nojo; a força que faço para engolir lágrima por lágrima.

Seria tripudiar sobre nossa história pedir que fôssemos amigos. E eu não aguento imaginar que aquilo que um dia foi meu em breve estará deitado com outro corpo, com outro cheiro, fazendo carinho em outros cabelos.

Quero ser feliz sem querer ser. Pode não ser possível, mas é justamente por não saber que eu te deixei.

Eu poderia, como você disse, pôr tudo na balança: nossas fotos, nossas risadas, nosso aniversário que já estava tão próximo, o sofá que compramos, mágoas e sofrimento. Mas só colocamos o relacionamento na balança quando o sentimento já não pesa mais.

Eu precisava de você. Precisava que você continuasse passando todos os outros para trás.

Que você voltasse, perdesse o vôo, entrelaçasse nossos dedos e ficasse um pouco mais.

Um comentário:

Cacau disse...

Impressionante como uma palavra escrita tem mais força do que uma palavra dita. Senti o molhado de cada lágrima do texto...
Parabéns, despertaste um sentimento em mim.