domingo, 27 de junho de 2010

Pequeno Tratado Sobre a Mortalidade do Amor

[Alexandre Inagaki - @inagaki]

Todos os dias morre um amor. Quase nunca percebemos, mas todos os dias morre um amor. Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de rotina. Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a bate-bocas vexaminosos, capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos. Morre em uma cama de motel ou em frente à televisão de domingo. Morre sem beijo antes de dormir, sem mãos dadas, sem olhares compreensivos, com gosto de lágrima nos lábios. Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, cartas cada vez mais concisas, beijos que esfriam aos poucos. Morre da mais completa e letal inanição.

Todos os dias morre um amor. Às vezes com uma explosão, quase sempre com um suspiro. Todos os dias morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria do que na prática, relutemos em admitir. Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um fracasso. De saber que, mais uma vez, um amor morreu. Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida sempre nos ensina alguma coisa. E esta é a lição: amores morrem.

Todos os dias um amor é assassinado. Com a adaga do tédio, a cicuta da indiferença, a forca do escárnio, a metralhadora da traição. A sacola de presentes devolvidos, os ponteiros tiquetaqueando no relógio, o silêncio ensurdecedor depois de uma discussão: todo crime deixa evidências.

Todos nós fomos assassinos um dia. Há aqueles que, feito Lee Harvey Oswald, se refugiam em salas de cinema vazias. Ou preferem se esconder debaixo da cama, ao lado do bicho-papão. Outros confessam sua culpa em altos brados, fazendo de pinico os ouvidos de infelizes garçons. Há aqueles que negam, veementemente, participação no crime, e buscam por novas vítimas em salas de chat ou pistas de danceteria, sem dor ou remorso. Os mais periculosos aproveitam sua experiência de criminosos para escrever livros de auto-ajuda com nomes paradoxais como "O Amor Inteligente", ou romances açucarados de banca de jornal, do tipo "A Paixão Tem Olhos Azuis", difundindo ao mundo ilusões fatais aos corações sem cicatrizes.

Existem os amores que clamam por um tiro de misericórdia: corcéis feridos.

Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, mortos-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão. Estes não querem ser sacrificados, e, à semelhança dos zumbis hollywoodianos, também se alimentam de cérebros humanos, definhando paulatinamente até se tornarem laranjas chupadas.

Existem os amores-vegetais, aqueles que vivem em permanente estado de letargia, comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim de seus dias o sorriso daquela ruivinha da 4a. série, ou entre fãs que até hoje suspiram em frente a um pôster do Elvis Presley (e, pior, da fase havaiana). Mas titubeio em dizer que isso possa ser classificado como amor (Bah, isso não é amor. Amor vivido só do pescoço pra cima não é amor).

Existem, por fim, os amores-fênix. Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, das contas a pagar, da paixão que escasseia com o decorrer dos anos, da TV ligada na mesa-redonda ao final do domingo, das calcinhas penduradas no chuveiro e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram - teimosos, e belos, e cegos, e intensos. Mas estes são raríssimos, e há quem duvide de sua existência. Alguns os chamam de amores-unicórnio, porque são de uma beleza tão pura e rara que jamais poderiam ter existido, a não ser como lendas. Mas não quero acreditar nisso.

Um dia vou colocar um anúncio, bem espalhafatoso, no jornal.

PROCURA-SE: AMOR-FÊNIX
(ofereço generosa recompensa)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

As loucuras que me levam até você me fazem esquecer que eu não posso chorar

Eu te amo pela sua gargalhada gostosa que é uma harmonia maravilhosa para os meus ouvidos. Eu te amo pelos seus olhos lindos e o seu olhar sincero e profundo. Te amo pela maneira que você me chama, como você diz meu nome. Te amo pelo jeito que você fica quando brinca com a minha cara. Eu amo a maneira como você me faz esquecer dos problemas, de como você me faz sair rapidinho do mau humor. Te amo por agüentar  as longas noites sem dormir, as grandes olheiras e os muitos dias em que acordo morrendo de sono.
Eu te amo pela maneira que me trata quando estou triste. Te amo porque com você meu mundo fica perfeito. Eu amo toda essa sua alegria, toda essa alegria que você traz a todas as pessoas que te conhecem.
 
Eu te amo pelo fato de, simplesmente, poder te amar.

Mesmo quando o dia é frio e a noite gelada.Quando os planos ficam desfocados e me sinto sozinha num mar de gente. Mesmo quando as coisas não dão certo e me parece haver apenas uma única saída.


Mesmo assim, eu te amo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Orkut como RG

Valéria não conseguia mais se imaginar sem aquelas pessoas. Tão próximas, tão companheiras. Mais uma reunião de amigas. Regada a vinho, cerveja, cigarros, fofocas, risadas. Conversavam animadamente, trocavam receitas, umas faziam as unhas, outras ouviam música.

Seu namorado chegou. Passava a dividir a atenção entre as amigas e ele, nada demais. Sentimentos mistos: carinho, vontade, amizade, tesão. Depois de algumas horas, seu namorado se foi, mas as amigas continuavam lá. Falando sobre o último capítulo da novela, o cabelo de fulana, o relacionamento de beltrano.

Foi surpreendida com a chegada de alguém quase alheio. Até então. Sem bater na porta, sem aviso. Apenas chegara, deixara um recado e partira. Valéria entendeu o motivo e deu um sorriso de satisfação. Já estava tentando forçar aquele tipo de situação há algum tempo.

Dali mais um pouco, nova visita. Já sabia tudo sobre aquela outra pessoa: seus gostos, seus sonhos, seus desejos. Já conhecia inclusive sua família.

Avalanche de informações. Seu universo confrontado. O mundo começava a desabar. Fora descoberta, mas não aceitava isso.

Seu RG era o orkut e seu diário, um blog. Antivírus para o sexo, sem cheiro e sem toque. Fotos em print screen.

Não aceitava que vivia de amizades desdobradas em pixels. Que julgava o orkut de uma pessoa a chave para seus segredos, que assistia à vida passar pelo Facebook. Que se apaixonara por uma webcam e que o príncipe encantado na verdade evitou a realidade ao passar tão perto e sequer acenar.

Esquecera da realidade, perdida em seu desvio psicológico.

O HD queimou. E se viu sozinha. Perdida, desamparada.

Tadinha, enlouqueceu.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Todo cuidado é pouco

Culpo-me parcialmente por desejar o mal, mas de certa maneira sinto que é apenas a reação de uma cadeia de fatos que me desagrada. Não posso me culpar por desejar mal a quem planta o mal, até porque é involuntário. Eu apenas sei que todos os nossos atos acabam retornando para nós mesmos disfarçados de ironia.

E está aí a grande questão.
Novamente, não posso me culpar por não refletirem antes de agirem incorretamente. Todos erram, a sutil diferença está naquele que erra sabendo o que está fazendo.

Acredito que para algumas situações, vale o ditado popular: "aqui se faz, aqui se paga".

E o que resta é aquela sensação saborosa da consciência limpa.