terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Amores plásticos

Não é de hoje que leio e escuto pessoas falando sobre a superficialidade das relações. De fato, estamos numa época em que as pessoas evitam se envolver e construir uma relação real.

O que muitas pessoas não percebem é que também estamos numa era em que as pessoas estão mais desesperadas por um relacionamento. Já não basta querer que o outro seja perfeito, este outro tem que querer estabilidade, monogamia e compromisso pra ontem. Com isso, perde-se a experiência da descoberta e da leveza, do cultivo do querer-bem, da desconstrução das expectativas e construção de objetivos em comum.

Somos pessoas, seres únicos, mas não devemos ser uma ilha. Temos nossos gostos, nossos interesses, nossas ambições, e, no entanto, muitos de nós acaba se recusando a ter seu mundo próprio compartilhado, considerando isso uma invasão. Há pessoas que acreditam que as coisas devam acontecer da forma e no tempo que elas querem, senão, dá trabalho, cansa e frustra.

Não existe nenhum relacionamento interpessoal sem frustrações. Elas acabam por acontecer, e é exatamente neste ponto em que deve-se avaliar a disposição em continuar investindo e construindo. Relações familiares, amigáveis e amorosas são assim, a gente vai desmontando paradigmas e conceitos enquanto vamos nos habituando ao outro e o que ele nos traz. Sem pressa, sem cobranças, leve e natural.

Existem histórias de pessoas que se encontram e já se encaixam; e isso é lindo - mas é exceção. A regra é dividir, compartilhar, comutar e não se fechar para o mundo e criar estereótipos infundados. O mundo já anda rápido demais, as pessoas já andam apressadas, queremos tudo de forma instantânea e pré-moldada.

Os amores plásticos, superficiais e impacientes surgem da ânsia em se ter um status de relacionamento e de se perder o foco na relação em si. Não devemos nos cobrar demais nem tampouco cobrar os outros demais. Tudo tem seu tempo, e com leveza fica mais confortável e mais fácil.

Seria ótimo se todos nós tivéssemos nosso tempo e déssemos tempo ao outro. As relações seriam menos superficiais e não veríamos essa crise emocional - despropositada - acometendo tantas pessoas.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Ás de Copas

Eu não consigo dizer o que sinto para quem tanto gosto. Engraçado, é só, sei lá, não consigo dizer. Acontece que quando alguém diz que não sabe demonstrar o que sente, soa como uma confissão, um pedido de ajuda. Quem fala isso é porque está sofrendo, mesmo que às vezes não saiba.

Eu sou o medo de sentir uma alegria que nunca senti, ou uma alegria que senti e perdi às vésperas de se tornar indelével. Eu sou a vergonha de ser, como muitos dizem, vulnerável ao amor, ou, em casos mais graves, uma conversa estreita entre o sentir e o orgulho de demonstrar. A necessidade de aceitação e o medo da rejeição, mesmo que eu não admita. Eu sou um medo tamanho mar-profundo, uma concha que, de tão fechada, ouve de todos por aí que é durona, sendo que, na verdade, só tenho pavor de perder a pérola que há dentro de mim.

Quando a gente diz, da maneira que for, o que sentimos para quem gostamos, a gente envolve aquela pessoa no nosso universo de maneira única. E, felizmente, o nosso universo engloba tudo o que há em nós; os afetos e desafetos, os defeitos escondidos e aparentes, as manias e as loucuras – omitir ao outro as nossas peculiaridades seria uma maneira muito pobre de gostar. Acontece que quando a gente sente que, além de pulsar, o coração formiga, queremos dividir com o mundo, gritar, olhar nos olhos e, sem medir a longevidade das palavras, transportar as formigas que aqui vivem para também conhecer o coração do outro.

Poucos sabem, mas existe uma parcela da vida muito bonita que permeia entre o dizer e o sentir. Sentir é maravilhoso, criamos lugares que nunca imaginamos dentro de nós – profundos, ricos, nossos. Mas, quando a gente fala o que sente, conseguimos transportar os nossos amores para um tapete mágico que, de tão mágico, pode nos levar para onde quisermos. Ver a alegria de quem a gente gosta estampada no rosto é um prazer muito maior do que “só” gostar por gostar; ter a sensação de estar se envolvendo é algo pequenino perto da euforia de dizer ao outro que ele está despertando algo em nós.

Eu ainda não descobri como é divertido dizer, sem pudores, o que se sente, e, pela linda mania que a vida tem de distribuir seus momentos, ter em troca um sorriso de reciprocidade. É como um bom dia com café quentinho e abraço com gosto de eternidade – mesmo que de eterno sejam só as lembranças. A verdade é que a gente perde muito tempo com medo. Perde amores, perde sensações únicas, sorrisos únicos e, por achar que, sei lá, não sei, não consigo, um dia se perde em saudades que, por sua vez, também serão únicas.

Querer ouvir tudo o que se quer, mas não querer falar tudo o que se sente, é injusto com os amores que passam; com os que ficam. Eu te gosto, eu adoro estar com você, foge comigo, estou tão feliz que você está aqui, desce rapidinho, estou com tanta saudade – são palavras que soam feito bálsamo para a alma de quem convive conosco. Uma pena eu não me enfrentar e descobrir como é louco e gostoso esse mundo das palavras que soam feito música.

E olha que eu sei que o tempo passa. Eu sei como a dor de não falar, em longo prazo, amarga a vida. Eu sei o quanto as próximas voltas desse carrossel dão medo. Muito mais medo. Então eu preciso parar de amar a saudade de um dia e começar a gostar de poder gostar, me envolver e falar disso agora

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Surreal. Que loucura, cara.

Nos últimos tempos eu venho atravessando mudanças significativas na minha vida. Meus conceitos, meu pré-conceitos, minhas crenças.

Há aproximadamente um mês eu venho na fase mais intensa destas mudanças.

Tenho sentido vergonha da forma que eu e meus amigos nos tratamos, usando palavras ofensivas que eu antes tinha como "uma forma íntima de tratamento". Tenho sentido vergonha da forma que eu pensava e da forma que eu usava pra me comunicar.

Hoje é meu primeiro dia mudando estas coisas que passaram a me incomodar, coroado com a mudança da minha alimentação. É chegada a hora de me desintoxicar da velha Luciara.

Coincidentemente, é começo de ano. Coincidentemente, é o aniversário da morte da minha mãe.

A mudança é necessária e inevitável, então eu decidi abraçar estes novos conceitos e comportamentos.

Eu tenho muito o que agradecer a algumas pessoas que potencializaram os eventos que me trouxeram a esta decisão. <3