terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Eu sou refém de mim mesma (ou "A mulher que sentia demais")

Transtorno de Ansiedade Generalizada: isso é o nome de uma doença mental. Assim como depressão, fobia ou déficit de atenção. Sim, são doenças mentais e precisam de tratamento.

Eu sofro de TAG desde sempre. Durante toda a minha infância este mal foi tratado como bronquite, pelas crises de falta de ar.
A crise mais antiga que me lembro foi na minha festa de 5 anos, quando eu ganhei uma boneca que eu queria muito muito muito. Enquanto eu abria o presente, comecei a ter uma falta de ar colossal, que teve seu ápice quando eu vi a boneca dentro do embrulho.

Uma pena que eu tenha sido corretamente diagnosticada 20 anos mais tarde, mas ainda bem que hoje eu sei o que acontece comigo.

A TAG é um pesadelo com o qual a gente aprende a conviver. Minha cabeça e meus sentimentos vivem num turbilhão. As crises vem aos poucos, num crescente ao longo dos dias e um dia >BUM!< o corpo para de funcionar direito. E não passa rápido, às vezes a TAG toma dias para que meu corpo volte a responder adequadamente.

E eu vivo. Eu me divirto, eu aproveito, eu me apaixono, eu fico feliz e fico triste - numa intensidade gigantesca. Todos os sentimentos que tenho são excessivos. E eu sou supercompetente no meu trabalho - devo muito à essa doença por isso, porque no trabalho eu encontro calmaria sob pressão e prazos curtos simplesmente por conseguir manter a cabeça inteiramente ocupada.

Os sintomas da TAG são difusos: tenho variações confusas de sono, apetite, humor e libido. Tenho palpitações, minhas mãos suam, minhas costas e pernas sempre estão doloridas. Emocionalmente, a ansiedade mexe com minha autoestima, me deixa preocupada com tudo (TUDO mesmo), faz com que eu planeje minhas ações para o pior.

Eu não vivo o presente. Eu sempre estou dez minutos à frente. Sempre entendendo que as pessoas não me querem por perto, que minhas paixões vão me deixar, que meus amigos apenas me toleram.

Minha última crise foi no motel com um cara fantástico. Eu só conseguia pensar "não, agora não, ele não precisa saber ainda que eu sou maluca". A crise durou três dias, e eu só comecei a melhorar quando tive um dia pesadíssimo no escritório. O trabalho me salvando e a doença me fazendo ultracompetente - o ciclo não acaba.

Quem convive com gente como eu precisa praticar (e muito!) a empatia. Pra ajudar uma pessoa com TAG a superar uma crise é preciso carinho e paciência. É preciso poucas palavras. É preciso apenas estar ali oferecendo apoio  em vez de pedir calma.

Eu tenho pessoas incríveis à minha volta, que me dão suporte até sem entender direito o que acontece. Minha família, meus chefes, meus amigos, meu time, meus namorados. Todos, sempre e sem exceção, procuraram me ajudar nesses momentos. E isso só faz com que as crises se tornem quase inexistentes; apenas por eu não precisar (também) me preocupar com o que vão pensar de mim.

Eu amo essas pessoas, do fundo do coração. Sem ansiedade. :)