quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Sutilmente

É difícil voltar.

É terrivelmente difícil admitir fracassos. E eu fracassei.

De novo.

Miseravelmente, fracassei.

Este meu último fracasso não foi totalmente culpa minha. Foi culpa da vida, do karma que eu provavelmente carrego, dos anos de terapia que eu ainda não fiz, dos óvulos saudáveis de alguém e da predisposição do universo em mostrar-me o quanto eu posso ser impotente quando o assunto é "controlar uma relação e fazê-la dar certo".

Eu não posso controlar uma relação, nem fazê-la dar certo, aprendi. Ponto para a minha Bridget Jones que agora sabe o quanto o destino é brincalhão conosco. Com todo mundo, inclusive

E olha que eu nem acredito em destino.

Apostei alto com o destino, perdi as minhas fichas e, sinceramente, desisti de jogar conforme as regras estipuladas e lavradas no manual. Desisti de tentar controlar as coisas, porque são as coisas que nos controlam. Os sentimentos, as pessoas que surgem em nossas vidas, as situações, são fatores que determinam os sucessos e os fracassos e, acreditem, nem sempre o fracasso é fracasso e o sucesso é sucesso.

É tudo relativo.

Então, eu venci.

Terminar um texto com um clichê tão abominável quanto esse pode ser uma vitória contra a obrigação de ter um final marcante e genial, como também pode ser uma derrota penosa e dolorida para minhas crenças e expectativas.

sábado, 10 de julho de 2010

Silêncio

Há algo dentro de mim que é muito desobediente, que age por conta própria sem me dar satisfação.

Aqui deveria haver um texto cheio de significados e estórias, mas não há. Há somente esse amontoado de palavras amarrotadas e amontoadas. Aqui deveria haver sonhos e promessas de futuro, mas não há. Há saudade respingada de sal. Aqui deveria haver fotos e registros de horas partilhadas, mas as horas correram rápidas e silenciosas e se transformaram em dias e semanas vazios e distantes. Aqui deveria haver um coração palpitante e esperançoso, mas ele anda confrangido e assustado. Aqui deveria haver sol e brisa, mas de repente fez-se inverno e chuva. E a chuva, que deveria carregar tudo consigo, só faz tudo ficar mais retido dentro de mim. Aqui deveria haver riso e encontros, entregas e coragem, mas só restaram essas lágrimas sempre prontas a  correr pelo meu rosto. Aqui deveria haver alguém, mas só restou silêncio.
 
 
 
 
 
[texto da sempre querida @borbbolletta]

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Suspensa

... no ar.

Sem saber o que já foi ou o que será. Apenas é. Talvez uma vírgula, um ponto-e-vírgula, reticências... Cadê o travessão?

Um novo parágrafo, um novo capítulo. Só não quero um novo livro.

Estamos nas últimas páginas.

domingo, 27 de junho de 2010

Pequeno Tratado Sobre a Mortalidade do Amor

[Alexandre Inagaki - @inagaki]

Todos os dias morre um amor. Quase nunca percebemos, mas todos os dias morre um amor. Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de rotina. Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a bate-bocas vexaminosos, capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos. Morre em uma cama de motel ou em frente à televisão de domingo. Morre sem beijo antes de dormir, sem mãos dadas, sem olhares compreensivos, com gosto de lágrima nos lábios. Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, cartas cada vez mais concisas, beijos que esfriam aos poucos. Morre da mais completa e letal inanição.

Todos os dias morre um amor. Às vezes com uma explosão, quase sempre com um suspiro. Todos os dias morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria do que na prática, relutemos em admitir. Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um fracasso. De saber que, mais uma vez, um amor morreu. Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida sempre nos ensina alguma coisa. E esta é a lição: amores morrem.

Todos os dias um amor é assassinado. Com a adaga do tédio, a cicuta da indiferença, a forca do escárnio, a metralhadora da traição. A sacola de presentes devolvidos, os ponteiros tiquetaqueando no relógio, o silêncio ensurdecedor depois de uma discussão: todo crime deixa evidências.

Todos nós fomos assassinos um dia. Há aqueles que, feito Lee Harvey Oswald, se refugiam em salas de cinema vazias. Ou preferem se esconder debaixo da cama, ao lado do bicho-papão. Outros confessam sua culpa em altos brados, fazendo de pinico os ouvidos de infelizes garçons. Há aqueles que negam, veementemente, participação no crime, e buscam por novas vítimas em salas de chat ou pistas de danceteria, sem dor ou remorso. Os mais periculosos aproveitam sua experiência de criminosos para escrever livros de auto-ajuda com nomes paradoxais como "O Amor Inteligente", ou romances açucarados de banca de jornal, do tipo "A Paixão Tem Olhos Azuis", difundindo ao mundo ilusões fatais aos corações sem cicatrizes.

Existem os amores que clamam por um tiro de misericórdia: corcéis feridos.

Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, mortos-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão. Estes não querem ser sacrificados, e, à semelhança dos zumbis hollywoodianos, também se alimentam de cérebros humanos, definhando paulatinamente até se tornarem laranjas chupadas.

Existem os amores-vegetais, aqueles que vivem em permanente estado de letargia, comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim de seus dias o sorriso daquela ruivinha da 4a. série, ou entre fãs que até hoje suspiram em frente a um pôster do Elvis Presley (e, pior, da fase havaiana). Mas titubeio em dizer que isso possa ser classificado como amor (Bah, isso não é amor. Amor vivido só do pescoço pra cima não é amor).

Existem, por fim, os amores-fênix. Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, das contas a pagar, da paixão que escasseia com o decorrer dos anos, da TV ligada na mesa-redonda ao final do domingo, das calcinhas penduradas no chuveiro e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram - teimosos, e belos, e cegos, e intensos. Mas estes são raríssimos, e há quem duvide de sua existência. Alguns os chamam de amores-unicórnio, porque são de uma beleza tão pura e rara que jamais poderiam ter existido, a não ser como lendas. Mas não quero acreditar nisso.

Um dia vou colocar um anúncio, bem espalhafatoso, no jornal.

PROCURA-SE: AMOR-FÊNIX
(ofereço generosa recompensa)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

As loucuras que me levam até você me fazem esquecer que eu não posso chorar

Eu te amo pela sua gargalhada gostosa que é uma harmonia maravilhosa para os meus ouvidos. Eu te amo pelos seus olhos lindos e o seu olhar sincero e profundo. Te amo pela maneira que você me chama, como você diz meu nome. Te amo pelo jeito que você fica quando brinca com a minha cara. Eu amo a maneira como você me faz esquecer dos problemas, de como você me faz sair rapidinho do mau humor. Te amo por agüentar  as longas noites sem dormir, as grandes olheiras e os muitos dias em que acordo morrendo de sono.
Eu te amo pela maneira que me trata quando estou triste. Te amo porque com você meu mundo fica perfeito. Eu amo toda essa sua alegria, toda essa alegria que você traz a todas as pessoas que te conhecem.
 
Eu te amo pelo fato de, simplesmente, poder te amar.

Mesmo quando o dia é frio e a noite gelada.Quando os planos ficam desfocados e me sinto sozinha num mar de gente. Mesmo quando as coisas não dão certo e me parece haver apenas uma única saída.


Mesmo assim, eu te amo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Orkut como RG

Valéria não conseguia mais se imaginar sem aquelas pessoas. Tão próximas, tão companheiras. Mais uma reunião de amigas. Regada a vinho, cerveja, cigarros, fofocas, risadas. Conversavam animadamente, trocavam receitas, umas faziam as unhas, outras ouviam música.

Seu namorado chegou. Passava a dividir a atenção entre as amigas e ele, nada demais. Sentimentos mistos: carinho, vontade, amizade, tesão. Depois de algumas horas, seu namorado se foi, mas as amigas continuavam lá. Falando sobre o último capítulo da novela, o cabelo de fulana, o relacionamento de beltrano.

Foi surpreendida com a chegada de alguém quase alheio. Até então. Sem bater na porta, sem aviso. Apenas chegara, deixara um recado e partira. Valéria entendeu o motivo e deu um sorriso de satisfação. Já estava tentando forçar aquele tipo de situação há algum tempo.

Dali mais um pouco, nova visita. Já sabia tudo sobre aquela outra pessoa: seus gostos, seus sonhos, seus desejos. Já conhecia inclusive sua família.

Avalanche de informações. Seu universo confrontado. O mundo começava a desabar. Fora descoberta, mas não aceitava isso.

Seu RG era o orkut e seu diário, um blog. Antivírus para o sexo, sem cheiro e sem toque. Fotos em print screen.

Não aceitava que vivia de amizades desdobradas em pixels. Que julgava o orkut de uma pessoa a chave para seus segredos, que assistia à vida passar pelo Facebook. Que se apaixonara por uma webcam e que o príncipe encantado na verdade evitou a realidade ao passar tão perto e sequer acenar.

Esquecera da realidade, perdida em seu desvio psicológico.

O HD queimou. E se viu sozinha. Perdida, desamparada.

Tadinha, enlouqueceu.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Todo cuidado é pouco

Culpo-me parcialmente por desejar o mal, mas de certa maneira sinto que é apenas a reação de uma cadeia de fatos que me desagrada. Não posso me culpar por desejar mal a quem planta o mal, até porque é involuntário. Eu apenas sei que todos os nossos atos acabam retornando para nós mesmos disfarçados de ironia.

E está aí a grande questão.
Novamente, não posso me culpar por não refletirem antes de agirem incorretamente. Todos erram, a sutil diferença está naquele que erra sabendo o que está fazendo.

Acredito que para algumas situações, vale o ditado popular: "aqui se faz, aqui se paga".

E o que resta é aquela sensação saborosa da consciência limpa.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

"Suplico que não me mate dentro de ti"

Prepare-se para me odiar pelo resto da sua vida. Foram dias e noites inquietos, brigas causadas quase que de propósito e acusações infantis. Mas chega uma hora em que reclamar não é o suficiente.

Dentre todos nossos erros nessa estrada longa, sinuosa e esburacada que é a nossa história, estou certa de estar evitando o maior deles, que é morar junto de você novamente, como programamos, como sonhamos. As coisas mudam. Não que nossa relação seja uma mentira, mas nos esquecemos de dizer a verdade. E a minha é que já faz algum tempo que tenho me sentido miserável.

Eu tomava banho e ia dormir cedo. Limpa por fora e emporcalhada por dentro, cheirando a pêssego e insatisfação. Você se sentia enfraquecido, sentia-se castrado e sem brechas para realizar seus desejos na cama. Eu me queixava de solidão, apesar dos seus gestos, dos restaurantes, das louças e dos carinhos. Eu chorava no quarto enquanto você batia punheta diante de dois peitos, que mais pareciam filiais da Parmalat, na tela do computador.

Sua masculinidade é medida em píxels e você sente o fel da testosterona.

Dessa forma, você se conforma que sou chata. Acreditava que era apenas mais uma fase ruim e estava certo de que nosso amor prevaleceria. Só consegue pensar em mim chupando um outro pau em busca de amor ao ler essa frase. Você planeja reativar o cadastro de periguetes. Resolve me dar um tempo para pôr em lógica minhas irracionalidades.

Erros sobre erros.

Eu só queria que você ficasse. Queria que você me desafiasse. Queria sentir o calor do teu peito nas minhas costas macias.

Eu precisava que você admitisse que havia um problema, um desconforto, um vício, um perigo, uma crise. Queria que você atravessasse junto de mim.


Eu estava lá, por você, limpa, sua, implorando pelos seus carinhos, suas risadas, seus agarrões. Esperando por magia, ilusões, um beijo de hortelã misturado com meu gosto pela manhã. Esperava que você relembrasse a promessa de não sermos um daqueles casais que jantam em silêncio e que fazem escândalo por uma saia curta.

Queria que você desligasse a televisão, o computador, lavasse minhas costas, não soltasse da minha mão. Queria que você tivesse perdido o medo, os nódulos, o cheiro de velório, as estribeiras, os métodos, o orgulho, a razão.

Eu sei, toda paixão tem seu fim e nem sempre fica o afeto, o respeito ou o companheirismo. Deus sabe o quanto meus olhos misturam decepção, ódio e nojo; a força que faço para engolir lágrima por lágrima.

Seria tripudiar sobre nossa história pedir que fôssemos amigos. E eu não aguento imaginar que aquilo que um dia foi meu em breve estará deitado com outro corpo, com outro cheiro, fazendo carinho em outros cabelos.

Quero ser feliz sem querer ser. Pode não ser possível, mas é justamente por não saber que eu te deixei.

Eu poderia, como você disse, pôr tudo na balança: nossas fotos, nossas risadas, nosso aniversário que já estava tão próximo, o sofá que compramos, mágoas e sofrimento. Mas só colocamos o relacionamento na balança quando o sentimento já não pesa mais.

Eu precisava de você. Precisava que você continuasse passando todos os outros para trás.

Que você voltasse, perdesse o vôo, entrelaçasse nossos dedos e ficasse um pouco mais.

Era uma vez

Escrevo. Escrevo porque preciso, para que tudo isso que está guardado, aprisionado e amarrado dentro de mim saia. Saia pelas minhas palavras mal digitadas, saia pelos poros com o suor, saia com a fumaça do cigarro a cada baforada.

A cada fim de ciclo, procurei em mim as razões de uma separação. Eu nunca fui boa o suficiente. Até você.

Você chegou, e não foi de mansinho. Chegou como um furacão, tirando tudo do lugar, fazendo com que a velharia voasse porta afora. E com você eu não fui boa. Eu fui ótima.

Sabe, gostava do jeito que éramos. Nosso conto de fadas.

O problema é que os contos de fada acabam no 'felizes para sempre'. Não contam a dura rotina da Branca de Neve em manter o palácio em ordem e cuidar dos filhos. Não contam o que acontece quando a Cinderela encontra um SMS de uma desconhecida no celular do príncipe. Não dizem o que acontece quando a Bela Adormecida finalmente acorda e percebe que o príncipe encantado não é tão encantado assim.

Não existe 'felizes para sempre'. Existe o 'aturo teus defeitos até onde der'.

Eu nunca fui uma princesa. Sempre estive mais para caçadora, daquelas que enlouquecem os homens por não se entregar. A princesa toma cuidado com o corpo, a caçadora toma cuidado com o copo.

Meu copo ficou meio vazio, e resolvi que devo enchê-lo. Cadê a vodca?

Deixa o sol bater na cara...

 
“Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. (...) Ela fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.”
Clarice Lispector

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Namoro, Casamento, Romance...

(Arnaldo Jabor)

Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim. Como tudo na vida.

Detesto quando escuto aquela conversa:
- Ah, terminei o namoro...
- Nossa, estavam juntos há tanto tempo...
- Cinco anos.... que pena... acabou...
- é... não deu certo...

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.

Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos essa coisa completa.

Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível.
Tudo junto, não vamos encontrar.

Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.

E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante... e se o beijo bate... se joga... se não bate... mais um Martini, por favor... e vá dar uma volta.

Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer.

Não brigue, não ligue, não dê piti. Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você esperar... ou não.

Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto.

Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob pressão?

O legal é alguém que está com você, só por você. E vice-versa. Não fique com alguém por pena. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós.

Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.

Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

Gostar dói. Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração... Faz parte. Você convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo.

E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse... A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.

Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.

Na vida e no amor, não temos garantias.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear.
E nem todo sexo bom é para descartar... ou se apaixonar... ou se culpar...

Enfim...quem disse que ser adulto é fácil?

domingo, 23 de maio de 2010

Que o outro saiba quando estou com medo e me tome nos braços sem fazer perguntas demais. Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta. Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor. Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso. Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes. Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais. Que o outro sinta quanto dói a idéia da perda e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida, não porque lá está a sua verdade mas talvez seu medo ou sua culpa. Que se começo a chorar sem motivo depois de um dia daqueles, o outro não desconfie logo que é culpa dele, ou que não o amo mais. Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo "Olha que estou tendo muita paciência com você!" Que se me entusiasmo por alguma coisa o outro não a diminua, nem me chame de ingênua, nem queira fechar essa porta necessária que se abre para mim, por mais tola que lhe pareça. Que se eu eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire. Que o outro filho, amigo, amante, marido - não me considere sempre sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso. Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vunerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.

Lya Luft.

sábado, 6 de março de 2010

Feliz Mensário... #SEER

Estava me arrumando pra sair, procurando uma roupa menos fria e nem tão quente para aventurar-me à rua.
Nessa busca, deparei-me com teu cheiro nelas, e passei a me dedicar em te encontrar pela casa.

Pude ver teu sorriso na escova de dentes no banheiro. Na cozinha, teu cuidado em preparar o café que tanto gosto. Nos teus óculos, em cima da televisão, quase pude sentir o carinho em meus cabelos enquanto ficamos deitados no sofá. No quarto, me lembrei do teu olhar misto de carinho, devoção e desejo.

Nas escadas, ficam nossos sôfregos ofegos, e no portão, nossas palavras malcriadas e gestos duros.

Já não posso ficar sem tudo isso. Momentos bons - outros nem tanto -, mas nossos. Nossas vidas. Nossa história.

Eu, você, nossa filha e o filho que está por vir. A mudança, a nova vida que teremos.



sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sonhos dão trabalho...

"Procure entender que eu quebrei dentro de mim coisas muito mais importantes, e estou feliz por isso."

Mas cavaleiros andantes sempre partem de repente, e as donzelas esperam, derramando lágrimas, por dias sem fim à janela, olhando o horizonte em busca de um sinal ou de uma esperança.

A tristeza sempre está esperando no final de qualquer história.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


"Está na moda a misantropia. E a misantropia anda de mãos dadas com a falta de estima.

Faz parte da nossa natureza, a natureza humana, esta quimera num labirinto de espelhos, insistir no erro; por teimosia, paixão, desejo, imaturidade; a nossa arrogância em acreditar que somos capazes de transformar alguém, a crença de que podemos ser salvos pelo amor, por alguém que nos faz sentir amor e que nosso amor é capaz de salvar este alguém.

Não há salvação. Há desencanto, desilusão, desentendimento; a comunicação deixa de ser direta, as palavras começam a ser medidas; os silêncios, constrangedores. E as brigas, constantes. Afastar-se é natural, o que gera a raiva,  a mágoa, o ressentimento citados no segundo parágrafo. É necessário ter sensibilidade para saber a hora de tirar o time de campo. E todo desfecho é dor no volume máximo.

Superar o desencanto, a desilusão, o desentendimento é o que fortalece uma relação e a nós mesmos; porque somos todos loucos, temos nossos momentos de loucura e o direito de tê-los; somos incapazes de poupar os nossos desta indulgência. Aquilo que nos faz atraentes às vezes é o que nos torna repulsivos, o contrário também se aplica.

Não estou escrevendo sobre loucuras patológicas, para estas existem tratamentos e acompanhamentos diferenciados. O amor não cura, tampouco salva alguém destes males. Não insista.

(...)

Já este eu que vos escreve, não empresta. É imprestável."

** Retirado sutilmente do Coisa de Homem

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Pequenas porções de ilusão

Lia acordou no sofá. Olhou para os lados – e tudo estava igual. Ou quase.

Havia algo diferente nas cores e nos cheiros. Tudo se encontrava em tom pastel e cheirava a naftalina. Ainda podia sentir um pouco de lavanda ao fundo, mas a naftalina era predominante.

Lembrou-se dos dias anteriores, quando as cores começaram a se apagar. Primeiro o verde-limão, depois o laranja, o amarelo-ouro, o azul turquesa e, finalmente, o vermelho. E o cheiro? Aquela lavanda inebriante, quase almiscarada foi desaparacendo, enquanto o cheiro de coisa velha se impregnava em seus poros.

Teve uma sensação estranha. Havia algo sobre seu corpo, minúsculo. Haviam vários 'algos minúsculos'. Incomodantes. Perfurantes. Sujos.

Levantou-se e deu algumas batidinhas pelo seu corpo. Todos os algos caíram – ou pelo menos a sua maioria.

Decidiu-se por um banho e dirigiu-se à banheira. O cheiro de naftalina não vinha dela, estava certa disso. Era algo que inundava o ambiente. No caminho para o banheiro, mais algos pelo chão.

Desistiu do banho.

Não lembrava ao certo quando as cores se apagaram, quando o cheiro aparecera. Esforçava-se, mas o que lhe vinha à mente eram eventos desconexos que sequer pertenciam a ela.

Interessou-se pela quantidade de algos espalhada pelos cômodos de sua casa, e notou que formavam um rastro. Seguiu-o por todos os lados, passando pela garagem, varanda, jardim... até que viu que terminavam na entrada do quarto, em sua cama.

Deitou-se e percebeu. As cores, o cheiro, a falta. Tudo culpa delas. Tantas e tão pequenas que não conseguiria se livrar. Tantas e tão pequenas... mas foram um presente, dadas sinceramente, e de coração.

Eram migalhas.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Reticências

Ele a olhava com aqueles olhos semicerrados, velhos conhecidos. A olhava e agradecia por tê-la ao lado, com sua manias, seus vícios, sua risada, seus turbilhões.

A voz grave, a respiração pesada. O ritmo cardíaco aumentado. Sim, ele sabia. Ele sentia.

Nunca poderia amá-la como esperado.

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Ela o olhava com aqueles olhos brilhantes, úmidos. O olhava e pensava em como era bom ter alguém como ele, que a mimava, a queria bem, esforçava-se por ela.

O abraço apertado, o beijo quente. As mão entrelaçadas. Ela também sentia, mas demorou um pouco pra entender.

Ele nunca a amaria como ela gostaria. Mas ela sabia que o esforço dele pra fazê-la feliz era grande. Por isso ela aceitava aquilo que ela não podia mudar.

Dele pra ela




Quebra Cabeça
(Engenheiros do Hawaii)

Pode ser pra sempre
Pode não ser mais
Pode ter certeza e voltar atrás
Pode ser perfeito
Fruto da imaginação
Pode ter defeito de fabricação

Tá faltando peça no quebra-cabeça
Eu não tenho pressa
O meu tempo é todo teu
É tudo que eu posso oferecer
É pouco
Mas é tudo que eu posso oferecer
É quase nada
Mas é tudo que eu posso oferecer

Pode estar no ponto
Ponto de interrogação
Pode ser encontro ou separação
Pode correr risco
Arriscado sempre é
Só não pode o medo te paralisar

Tá faltando peça no quebra-cabeça
Eu não tenho pressa
O meu tempo é todo teu
É tudo que eu posso oferecer
É pouco
Mas é tudo que eu posso oferecer
É quase nada
Mas é tudo que eu posso oferecer
É pouco
Mas é tudo que eu tenho

Tudo que eu posso oferecer

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Deixa o Sol Bater na Cara


Não sei ao certo a história de vocês, nem as circunstâncias em que vocês romperam. Também não é da minha conta, afinal, é passado. O que passou está morto – e não se levanta mais.

A questão maior foi a sua reação apenas por ele entrar em contato. Eu estava ao lado dele durante a conversa de vocês. Eu o incentivei a entrar em contato com você. Achei que seria, no mínimo, de bom tom; e demonstraria respeito ao tempo em que passaram juntos.

Me surpreende que alguém que vê a vida como você, aja dessa maneira, egoísta e centralizada; especialmente em relação a alguém que um dia foi importante na sua vida e a contatou sem cobranças, sem diferenças, apenas para garantir a sua boa saúde.

Essas palavras podem soar apenas 'balela' aos seus olhos, mas eu tinha que escrever. Lição de moral? Talvez. Mas é sempre importante lembrar que, pelo menos depois dos 25, é primordial encarar a vida de um ângulo mais adulto.

Lembre-se: estamos neste mundo, nesta existência apenas essa vez, e não haverá outra. Por que então não se livrar de sentimentos baixos e encarar a vida como ela é – incrível? Largue mão do seu passado, siga adiante – e deixe que os outros sigam também. Todos merecemos.

Dê-se a chance de ser uma pessoa ainda mais feliz sendo amável com o próximo, independente de quem seja.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Bairrismo [ou burrismo?]

** Faz muito tempo que estou para escrever este texto. Como paulista casada com um gaúcho, muitas vezes as sombras da cultura regionalista dele me ferem. Não como paulista, mas como pessoa. **


Os gaúchos tem milhares de qualidades, mas são sim o povo mais bairrista e ufanista (não xenófobo) do Brasil. A questão é: isso é bom? O José pode achar que sim. Já eu acho que todo aquele culto à bandeira, todo aquele modo de falar dos pampas como se fosse uma religião, muito denso e perturbador.

Acredito que isso se deve ao regionalismo e a diferença entre povos de regiões próximas. As pessoas em geral tem necessidade de se afirmarem melhores que outras, e os gaudérios fazem isso enaltecendo sua terra, sua cultura e sua história. É um orgulho bobo, já que tudo isso não é mérito de nenhum deles.

Mas os gaúchos tem isso enraizado em sua cultura. Consideram-se um povo marginalizado, longe demais do resto do país. Vítimas de piadas, preconceito e segregação. Mas não percebem que eles mesmos se colocam nessa posição, esquecendo-se que, antes de gaúchos, eles fazem parte de uma coisa maior. Ainda assim, fazem questão de levantar a bandeira tricolor, cantar o Canto Alegretense a plenos pulmões, e não percebem que eles mesmos se colocam como minoria e acabam se apoiando nas muletas de um preconceito inexistente.


Minha única bandeira é a liberdade. Defendo o direito de todos poderem dizer e fazer o que quiserem (desde que não prejudiquem outros, claro) e isso inclui o direito de se ter prazer de dizer de onde é, e não um orgulho cego e sem fundamento.

Às vezes, andando pela rua, observo as pessoas trabalhando, vivendo, amando e fico maravilhada, apreciando em êxtase a beleza da vida humana. Outras vezes, fico chocada com as pessoas. Será que somos realmente da mesma espécie? Será que eu sou mesmo tão diferente assim?

Os comentários de alguns, o ódio, o protecionismo, a insegurança cultural, o medo do outro, o ufanismo, são exemplos de como as pessoas andam algemadas a preconceitos profundos, cada vez mais pequenas e mesquinhas, seu pensamento distorcido e embotado por doenças culturais como o bairrismo.

Parece que algumas pessoas só conseguem raciocinar em termos tribais, pequenos, limitados. Um discurso universal, humanista, libertário, que tenta pensar nossa espécie como um todo, é algo aparentemente tão radical que elas não discordam: nem apreendem.

Enquanto o mundo caminha numa direção em que se fala cada vez mais em termos gerais e universais, ainda existe gente que enxerga tudo num ângulo específico e bairrista.

Eu amo todos os seres humanos. Eu não sou paulista, eu não sou brasileira. Eu sou humana.

Estou cansada de pensamentos pequenos, pessoas mesquinhas, leis tribais. Eu sou brasileira, eu sou paulista, eu sou gremista, eu sou budista... Que mundo é esse?! Será que não tem ninguém nesse salão pra dançar comigo?

Quem me dera encontrar outra pessoa, só uma outra pessoa, que me dissesse: eu não sou nada, eu sou só o Paulo, a Cláudia, o João, um animal humano, à vontade entre todos os povos, sempre sozinho, sempre acompanhado, que pertence a todos os grupos e não pertence a nenhum.


Nossa cultura sabe cuidar de si mesma. Os membros individuais dela, aparentemente não.

Eu não quero que concordem comigo. Eu não quero ter discípulos. Eu não quero nem mesmo convencer ninguém. Tudo o que eu quero é mostrar uma via alternativa.

Tudo o que eu quero é abrir os seus olhos, nem que apenas por um segundo, nem que você discorde de mim, para o fato de que o mundo, como ele é hoje, não é uma construção unânime.

Existem vozes dissidentes, existem pessoas que pensam diferente, existe a possibilidade de viver uma outra vida, sem mesquinharias, tribalismos, religiões, maniqueísmos, preconceitos, prisões. Mais ainda, sem esqueminhas mentais dogmáticos e pré-fabricados, que almejam explicar tudo com suas formulinhas, mas que só conseguem embotar o pensamento humano, como o marxismo e o cristianismo.

Ser pequeno, mesquinho, preconceituoso, ressentido, invejoso, tudo isso é muito fácil. E muito tentador.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Que a chuva traga alívio imediato...


A Garota das Laranjas [Jostein Gaarder]

"Achei melhor não tocar mais no assunto, pois isso o meu pai havia me ensinado: eu não tinha o direito de me intrometer em algo que não me pertencia. Precisava evitar me aproximar demais de um conto de fadas que não queria compartilhar suas regras comigo.

Mas também tinha direito aos meus próprios pensamentos."

Descendo a Serra [EngHaw]

'O inferno ficou para trás com as luzes lá em cima
O céu não seria rima, nem seria solução

Um dia de cão, um mês de cães danados
Ordem no caos - olhos nublados

Um cão anda em círculos atrás do próprio rabo

Um dia de cão, um mês de cães danados
Ordem no caos - olhos cansados

Não há nada de novo no ovo da serpente'

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Um Momento de Beleza

"Enquanto as crianças dançam no jardim sob o céu noturno e as luzes, vejo uma coisa.
Lua e Marie estão de mãos dadas.
Parecem muito felizes, curtindo este momento, vendo as crianças e as luzes em sua velha casa de alvenaria.
Lua beija Marie.
É só um beijinho de leve nos lábios.
E ela retribui o beijinho.
Às vezes as pessoas são bonitas.
Não pela aparência física.
Nem pelo que dizem.
Só pelo que são."



 Eu Sou O Mensageiro - Markus Zusak
Cap. 6 de Espadas, pág. 199

O Ciclone da Varanda

"- É sim, Ed - mas ela também ataca. Ela me ataca com sua própria versão da verdade. As palavras entram cortando meus ouvidos de forma tão brutal que chego a achar que vai jorrar sangue deles. - Sim, você tá aqui, e é exatamente este o problema! - ela estica os braços. - Olha só pra esta merda de lugar. A casa, a cidade, tudo - sua voz está sombria. - E seu pai... ele prometeu que um dia a gente sairia daqui. Disse que a gente faria as malas e iria embora, e olha só onde estamos. Eu tô aqui. Você tá aqui, e, exatamente como seu pai, você só promete, Ed, e não cumpre porra nenhuma. Você - e ela aponta o dedo pra mim, amargurada. - Você podia ser tão bom quanto qualquer um deles. Tão bom até mesmo quanto o Tommy... Mas você ainda tá aqui e ainda vai estar aqui daqui a 50 anos - ela fala de maneira bem fria. - E você não terá realizado nem alcançado nada.

Faz-se um silêncio.

- Eu só quero que você seja alguém na vida."





Eu Sou O Mensageiro - Markus Zusak
Cap. 10 de Espadas, pág.219

A Música dos Corações

 "Justamente o de copas ficou por último.
Eu estava esperando espadas.
Peguei copas e, por alguma razão, este parece o mais perigoso de todos.

O naipe é de corações, cara, saca? Tem gente que morre de mágoa, um troço que afeta o coração. Uma porrada de gente morre de ataque cardíaco. E é o coração que mais dói quando as coisas dão errado e se desmoronam.

(...)

Só consigo ouvir o som dos corações de novo, gritando, esbravejando e batendo nos meus ouvidos.
Mais rápido.
Mais rápido.

Nada de tique-taque do letreiro luminoso, nada de voz de passageiro, e nada de chiado do trânsito. Somente os corações.
No meu bolso.
Nos meus ouvidos.
Na minha calça.
Na minha pele. No meu hálito.
Estão bem no meu interior.
- Somente corações - digo. - Por todos os lados."




Eu Sou O Mensageiro - Markus Zusak
Cap. Ás de Copas, pág.242, 243


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[De fato] Eu sou um ás de copas.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Preguiça

A minha primeira ação ao acordar, antes mesmo de abrir os olhos, é certificar-me de que ele está ao meu lado. Pode ser um braço por cima de minha cintura, mãos entrelaçadas ou apenas aquela estranha sensação de 'presença'.

Então, aquela espreguiçada gostosa, braços para o alto e pernas esticadas. O beijo de bom dia seguido de um sorriso.

É só isso o que importa.