domingo, 31 de dezembro de 2017

Contagem progressiva

Eu planejei tudo para dar um fim às coisas hoje. E a vida, como uma dama com uma luva de pelica, me bateu na cara quando eu já não tinha mais esperanças.

2017 foi um ano conturbado. Ouso dizer que está nos top 3 piores anos da minha vida.
Perdi o emprego que eu tanto amava. Magoei pessoas que me são caras, queridas e importantes. Me afastei da minha família de sangue. Fui abraçada pela depressão e vi o rosto da morte diariamente. Esperei sem vontade por um milagre.

O milagre que eu esperei me aconteceu.

Fui chamada de volta para a empresa que sempre me abraçou e me apoiou. Reconstruí minhas relações e conheci o perdão. Entendi que família de verdade é aquela que a gente escolhe e que nos acolhe. Ainda converso frequentemente com a tristeza mas já não sinto o fio gelado da morte.

O milagre que eu esperei me aconteceu.

Até ontem eu acreditei que este ano seria o fim. Agora acredito que ele veio e destruiu tudo para que eu possa me reinventar e colocar tudo em seu lugar.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Contagem regressiva (-3)

Ontem estive conversando com alguém que já esteve em meu lugar. Claro que em outros contextos, porém com a mesma conclusão.
Eu não tinha parado pra pensar se minha decisão é por falta de esperança ou para atingir outras pessoas, e minha conclusão é que é um pouco de cada. A desesperança está cada vez mais encravada em mim, me cutuca e me corrói.

Desesperança.
Desprezo.
Invisibilidade.
Desimportância.

Há algo sobre nós mesmos que ignoramos. Algo que negamos existir até ser tarde demais para se fazer algo a respeito. É o único motivo pelo qual levantamos toda manhã. O único motivo pelo qual aguentamos o sangue, o suor e as lágrimas. É porque queremos que as pessoas saibam o quanto somos bons, atraentes, generosos, engraçados e inteligentes.

"Tenha medo de mim ou me reverencie. Mas por favor, me considere especial."

Compartilhamos um vício: a necessidade de aprovação. Todos nós queremos um tapinha nas costas e o relógio de ouro, o grito da torcida. "Olha só o garoto inteligente com o brasão polindo o troféu! Continue brilhando, diamante maluco!" Afinal somos macacos de terno, implorando pela aprovação dos outros. Se soubéssemos disso, não faríamos isso tudo.

Desesperança.
Desprezo.
Invisibilidade.
Desimportância.

Abrace a dor e vença esse jogo.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Contagem regressiva (-5)

"O que você vai fazer no Ano Novo?"
"Não sei. Provavelmente morrer."

Foi assim que começou meu primeiro diálogo hoje. Descemos para fumar e lá se foi quase uma hora podendo, finalmente, conversar abertamente com alguém sobre meus planos. E sem ser julgada. Sem ser taxada ou rotulada. Apenas uma pessoa me ouvindo e discutindo suicídio como se discute o futebol do final de semana.

E foi bom.

Ao longo do dia me esforcei para esconder as marcas que fiz em meu corpo, mas o calor não me permitiu ficar coberta. Duas pessoas viram e me perguntaram o que era aquilo.

"Gatos."

Menti. Menti descaradamente. Na noite de Natal eu estava vendo minha tolerância à dor, se eu seria capaz de fazer uso do método mais tradicional.

Omiti. Omiti para quem me perguntou como eu estou. "Meu time me anima." Resposta vaga e suficiente para quem não tem um real interesse em saber das coisas.

As pessoas gostam de mentiras bonitas.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Contagem regressiva (-7)

Cheguei no primeiro grande evento. O Natal.

Hoje eu gostaria de estar apenas em dois lugares: ao lado do meu pai e da minha filha ou ao lado do homem que estou amando. E estou em casa. Sozinha.

No último final de semana eu pesquisei muito sobre formas de suicídio. Buscando uma forma indolor, optei pela morte doce e encontrei dois métodos viáveis até então - meu carro quebrou e não liga, o que me impede de fazer da forma menos trágica e dramática.

Eu queria conversar com as pessoas que me são queridas sobre isso, então andei deixando algumas dicas sobre a minha intenção. Percebi que suicidas não falam abertamente sobre suas pretensões para que não sejam impedidos. Eu não quero que alguém me impeça, mas tenho um forte desejo de que algum tipo de milagre me aconteça e me faça sentir que ainda vale a pena estar por aqui.

Eu esperei por um milagre específico durante toda a última semana, eu pedi abertamente por ele. Pedi para o homem que amo me salvar nas festividades de fim de ano. Bastavam três palavras: "Quer ir comigo?" ou "Fico com você."

O milagre que esperei não aconteceu.

Hoje é véspera de Natal e eu não estou conseguindo entender minha cabeça. Estou confusa, como se estivesse bêbada, entorpecida. Não tenho vontade de fazer nada nem de encontrar ninguém. Não consigo manter o foco em uma atividade, já tive crises de choro e de ansiedade.

Não sei se quero sobreviver à noite de hoje.

Tenho os remédios aqui. Tenho as sacolas plásticas. Tenho a coragem. Alguns dizem que não é coragem, e sim covardia. A minha covardia é de continuar vivendo uma vida insossa, sem objetivos e sem motivações. Eu acordo todos os dias porque meu corpo me obriga e me alimento porque sinto fome. Tenho tomado meus remédios, cuidado da minha aparência e ido ao trabalho porque não quero que ninguém desconfie dos meus planos. Não para me impedir.

Ninguém tem culpa disso. Nem as pessoas que percorreram a minha história e nem eu mesma. Quem tem culpa disso é a vida mesmo. A vida que me faz sentir vilipendiada, incompreendida e descartada.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Contagem regressiva (-13)

Minha contagem regressiva começa hoje porque acredito que não chegarei ao próximo ano.

A ideia de suicídio chegou como um cochicho fraco em meu ouvido, num dia banal. Como um câncer, ela foi silenciosamente ganhando espaço, primeiro aparecendo em momentos específicos de solidão. Hoje ela já é um pensamento recorrente e me faz companhia durante todo o dia, do acordar ao adormecer. No começo parecia absurdo e incabível - agora parece uma solução sensata e quase agradável.

Eu aprendi que suicidas não tomam essa decisão em um rompante. Suicídio é uma decisão consciente, trabalhada e estudada, não acontece do dia pra noite.

Eu estava estudando formas e técnicas de morrer e cheguei às possibilidades. Possibilidades tão reais e palpáveis que me fazem fazer pequenos testes para avaliar tempo e sofrimento.

Não quero sofrer, não mais.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Última oração

Tem coisas que não carecem de explicação: a paixão não veio de repente e você sempre me deixou intrigada. Me envolvi conforme fui te conhecendo, participando das suas escolhas e dos seus anseios porque você é encantador de diversas formas e jeitos. Te vi almejar, insistir e perseverar, e você ganhava mais minha admiração a cada passo e a cada conquista. Você, mesmo sem querer, rachou a armadura que me coloquei por ter perdido a fé e a confiança nas pessoas. Enquanto estivermos aqui, olharei para as estrelas e pensarei que podemos contemplar o mesmo céu.
Enquanto estivermos aqui, te darei o meu melhor.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

A caminho da última decisão

Decidir colocar um fim em tudo não é uma decisão fácil. É um processo, lento e gradual, considerado desqualificado e imoral. Fútil. Irrelevante.

Ninguém conhece a dor de ninguém.

As pessoas julgam, e julgam sem saber. Julgam aquilo que ignoram. Julgam aquilo que fingem esquecer. Por isso somos todos cegos, somos incapazes de ser verdadeiramente empáticos uns com os outros. Não conseguimos enxergar além de nosso próprio umbigo.

A vida inteira eu fui pela metade. Sempre quebrada, sempre faltando um pedaço. Sempre implorando por uma ajuda que nunca chegou. Desde sempre.

Você sabe o que é não ser amada? Eu sei. Minha mãe não me amou. Um dia ela se sentiu confortável em me dizer que eu fui a grande decepção da vida dela - e, note bem, isso foi algo que eu ouvi dela, depois de anos de terapia. Não foi numa briga, foi no consultório da psicóloga.

Minha mãe nunca me amou e por todos os anos em que ela esteve viva ela demonstrou isso das mais diversas formas: agressões, ameaças, desprezo. Ela engravidou quando não queria, quando não podia. Ela fez um enxoval pra um menino. Besteira? Não quando você cresce carregando marcas na alma e no corpo, encondendo-se para que as pessoas não fizessem perguntas. Meu pai? Sentia pena de mim, por isso procurava me dar a atenção e o carinho que eu não tinha - palavras dele.

Uma infância baseada em hematomas e queimaduras de cigarro. Uma vida inteira baseada em meus pais desejando que eu não estivesse ali.

A vida não me fez forte e independente. A vida me fez fugitiva de mim mesma. Viajando para longe, morando em outros lugares, experimentando copos e corpos noite após noite. Fazendo de mim uma escrava da necessidade de carinho e atenção. E o que as pessoas fizeram para me ajudar a evitar minha própria degradação, desde criança? Nada. As pessoas não se envolvem, as pessoas não se importam.
A sociedade em que vivemos é podre.

E minha degradação continuou. Seja pelo estupro que sofri e meus pais me tacharam de vagabunda, seja pelas tentativas de suicídio em que fui considerada dramática, pela gravidez não planejada em que fui chamada de inconsequente. Como se tudo o que passei fosse irrelevante e irresponsável. Quando é tarde demais as pessoas se perguntam o que havia de errado.

Pais que não enxergam seus filhos, se mutilando, se drogando, se destruindo. Mães que ignoram seus filhos, pais que humilham, irmãos que rejeitam. O sangue do meu sangue que me deixa pra trás como algo descartável.

Eu não sou forte como as pessoas gostam de pensar. Minha cabeça sempre esteve doente, ansiosa e angustiada, definhando. Ninguém vê. Ninguém se importa. No final da noite estão todos em seus lares confortáveis cercados de quem lhes é estimado - e aquele amigo, aquele parente, aquele conhecido, tadinho, ninguém suporta.

Ninguém se importa até que é tarde.

Eu não queria morrer. Eu imagino que tenho tanta coisa pra viver, pra conhecer, pra me engajar. Mas eu não tenho mais forças. Eu não sou forte, eu não consigo passar um dia sem derrubar lágrimas, eu não deixo de pensar que tudo o que eu tentei construir não faz qualquer sentido.

Eu tenho um sem-número de motivos pra chegar a este ponto. Minha mãe me espancava, meu pai fingia que não via, meu irmão não entendia. Meu melhor amigo me abusou, meu marido me agrediu, minha filha me deixou. Eu assisti minha morte e não sabia o que fazer a respeito.

Eu não quero as lágrimas da minha família. O que é família? Minha família é um monstro que me engole e me drena. São pessoas egoístas e narcisistas que preferem jogar as cinzas debaixo do tapete pra não terem suas vidas superficiais reviradas e suas rotinas fúteis estremecidas.

As pessoas são horríveis. Todo mundo se degladia em busca de atenção. As pessoas usam e abusam umas das outras e depois dizem que não tem nada a ver com isso e que cada um é responsável por si próprio. As pessoas são muito filhasdaputa.

Eu tenho medo de morrer. Tenho medo de haver algo depois dessa vida e a dor não acabar. Eu sou muito covarde. E eu já estou morta, já não tenho valia nesse mundo. Nem me reconheço mais. Eu não aguento mais viver assim.

Passo as noites pesquisando métodos e técnicas e me pego pensando em quanto tempo levarão para encontrar meu corpo inerte em casa. Consigo imaginar com perfeição meu corpo já putrefato e mau cheiroso - é o cheiro que vai chamar a atenção, não a ausência.

Ninguém se importa.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O dia em que te pedi em namoro

Sabia que eu já te pedi em namoro?

Já te propus isso ao olhar nos seus olhos depois de nos beijarmos pela primeira vez naquele nosso encontro. Meu beijo também fez isso numa outra noite, pouco depois, no cinema.

Te pedi em namoro quando passamos horas e horas nos falando incansavelmente. Quando você me acordou de madrugada com alguma mensagem e conversamos até quase o dia amanhecer. Era dia de semana.
Quis namorar com você quando os nossos sorrisos sorriam juntos a cada acordar compartilhado após noites dividindo a mesma cama.

E também quando percebi que mesmo estando em casa, ali não era mais meu único lar.

Eu te pedi em namoro, de novo, nas vezes em que cozinhei para você. Quando tomamos vinho um de frente para o outro e eu esqueci que fico bêbada rápido com vinho. Nos cinemas que vieram depois. Quando me emocionei vendo Theodore e Samantha se despedindo de novo em "Her", mas dessa vez com você.

Quis namorar com sua presença todos os dias em que estivemos longe e a saudade apertava no peito. E nas vezes em que você me surpreendeu e me desarmou, eu sabia que não tinha mais jeito.
Nunca precisei de um pedido formal.
Uma convenção social não significa vontade e esforço de estar junto, e é disso que falo.
Ao contrário do que as pessoas pensam, não é a formalidade que faz um relacionamento começar a ser construído.

E é por isso que desde o primeiro dia o meu olhar sempre te preveniu:
- "O que foi que você está me olhando assim?"
- "Nada não..."
Mas no fundo, era uma verdade inconsciente.

Fica comigo?

sábado, 5 de agosto de 2017

Quantas relações foram quebradas porque uma das partes não estava pronta?

"Pronto". Foi essa a palavra que você me disse. "Eu não estou preparado para uma relação".

E quem, nesta vida, está? Ninguém.

Relações não são equações matemáticas exatas, onde sabe-se a fórmula, muito menos movimentos concretos onde sabe-se aonde quer chegar. Mas ouvir de você sobre não estar pronto, não querer nada que causasse muito envolvimento, que ainda não era o momento, nem hora, me fez pensar muito sobre mim também. Que eu não estive pronta pra nada nesse mundo e mesmo assim dei minha cara a tapa por respeito àquilo que eu estava sentindo, por afeto ao momento partilhado. Porque sentir qualquer coisa é melhor que se abster de não sentir nada.

Você se abstém de não sentir nada por honra à sua solidão. Porque a sensação de pertencimento a algo ou alguém é assustadora. Porque você, no auge da idade, não quer dar o braço a torcer. E quem quer dar o braço a torcer?

A gente tem transformado relações em guerras de quem abre mão primeiro, de quem não sufoca, de quem fica. E eu, desta vez, penso em não ficar.

Não por você, de quem gosto muito. Mas por mim. Eu penso em não ficar porque não consigo estar numa relação sem saber o que, de fato, ela é: amizade colorida? Crushes que se pegam às vezes e no outro dia nada? Relação romântica?

É isso que me agoniza ao falar contigo. Não saber. Não saber, com clareza, o que se quer numa relação me faz pensar em abrir mão. Dela e de você.

Quantas pessoas que estão presas em relações onde não se sabe da honestidade, do sentimento ali implicado, da vontade de estar? Tenho dúvidas em relação a você, a nós. Os traumas dormem comigo todas as noites em que duvido de que é possível seguirmos juntos. Sem necessariamente rotular, porque não é preciso. Mas como seguir sabendo que não existe uma palavra sobre o que estamos construindo?

Conversar com você todos os dias me acalma e ao mesmo tempo me aterroriza. Eu sinto que em algum momento você irá embora porque é o que pessoas como você fazem: vão embora. De repente, as mensagens visualizadas e não respondidas. Os emails falham. As respostas não vêm. As ligações não são atendidas. E, de repente, eu começo a me perguntar se o erro está em mim, o que eu fiz de errado e todas as inseguranças surgem para me lembrar de que não sou boa o suficiente. E eu não quero isso, sabe? Não quero que você vá embora ou fuja por medo ou peso.

Estar aqui, alimentando uma relação que eu não sei nem direito o que significa, quais são os planos, se há denominação, se me fará bem daqui um tempo, se você está envolvido... não é o bastante para eu permanecer. O problema é que eu tenho muita coragem para estar sozinha. Eu prefiro passar meus dias na minha própria solidão a compartilhar minha existência com alguém que não se ajeita para me perceber. Relações requerem conhecimento, de si e do outro. Exigem entrega e devoção, idem. Coisas que você, como mesmo disse, não pode me dar agora. E eu pergunto: se não agora, quando?

Esta semana eu li algo como "nós não existimos na eternidade, a eternidade é um tempo que não existe". E, sim, se não existirmos concretamente no hoje, como existiremos no amanhã, no depois?

Não tem como.

Por esta razão não acredito em pessoas certas no tempo errado. Pessoas acontecem quando precisam e querem acontecer. Quando batem no peito e assumem o risco, o corte e o sentimento. quando, sabendo do trauma, conseguem seguir.

Sobre você, bem, eu estava te fazendo carinho e parei por um momento. Você sorriu e pediu para que eu continuasse, porque era bom. Foi sábado passado, e eu lembro bem da sua expressão.

Nosso maior erro é não nos darmos uma chance. Ou nos mantermos preferindo ficar na superfície, quando tudo pode ser mar ou oceano.

Eu pelo menos sou.

E você?

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

A morte me cai bem

Há tempos eu não sentia um vazio tão grande. Eu, que costumeiramente tenho um furacão de emoções confusas e pensamentos desvairados dentro de mim, estou preenchida com um vácuo inerte. O mais puro nada.

Não há planos mirabolantes, não há certezas rasas, não há dúvidas profundas. Não há amores coloridos, não há amizades fluorescentes, não há paixões que brilham em neon.

Não há esperanças medidas e nem desmedidas.

Eu queria recuperar o fôlego da caminhada e ter coragem pra me arriscar na incerteza do mundo. Eu queria me desvencilhar da companhia deste silêncio quase sólido, deste desprezo palpável, desta falta de bem-querer.

Não há mais nada por aqui.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Simples

Ontem depois que você foi embora confesso que fiquei triste como eu sempre ficava. Hoje foi diferente.

Fico me perguntando que outra mulher ouviria os maiores absurdos de você, um homem de 26 anos, sobre sua recente paixão por carros e rodas, suas composições e sonho de Rock in Rio e, ainda assim, não deixar de olhar pra você e ver um homem maravilhoso. Eu adoro te ver além da sua casca.

E que outra mulher te veria além da sua casca? Você não entende que eu baixei as músicas de Winery Dogs e umas boas do Dave Matthews Band porque achei divertido te fazer um jantar ouvindo algumas dessas suas músicas que dão vontade de viver. Um jantar que você não vai comer porque está perdendo o paladar para o que a vida tem de verdadeiro e bom. É tanta comida estragada, plastificada e sem sal, que você está perdendo o paladar. E você não sabe como vale a pena gostar de alguém e acordar na casa dessa pessoa e tomar café preto falando sobre notícias malucas como o cara que acha que é vampiro. Tudo sem vírgula mesmo e, nem por isso, desequilibrado ou antes da hora.

Você não sabe como isso é infinitamente melhor do que acordar com essa ressaca de coisas erradas e vazias. Ou sozinho e desesperado pra que algum amigo reafirme que o seu dia valerá a pena. Ou com alguma garotinha boba que vai namorar sua casca. A casca que você também odeia e usa justamente para testar as pessoas “quem gostar de mim não serve pra mim”.
E eu tenho vontade de segurar seu rosto e ordenar que você seja esperto e jamais me perca e seja feliz. E entenda que temos tudo o que duas pessoas precisam para serem felizes juntas. A gente dá muitas risadas juntos. A gente admira o outro desde o dedinho do pé até onde cada um chegou sozinho. A gente acha que o mundo está maluco e sonha com sonos jamais despertados antes do meio-dia. A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida.

E você me olha com essa carinha banal de “me espera só mais um pouquinho”. Querendo me congelar enquanto você confere pela centésima vez se não tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E sempre volta.
Volta porque pode até ter uma coxa mais dura. Pode até ter uma conta bancária mais recheada. Pode até ter alguma descolada que te deixe instigado. Mas não tem nenhuma como eu.

Porque, quando você está com medo da vida, é na minha mania de rir de tudo que você pode encontrar mais forças. E, quando você está rindo de tudo, é na minha neurose que dá pra encontrar um pouco de chão. E, quando você precisar se sentir especial e amado, sabe que pode sentir isso na minha voz. E, quando pensar em alguém em algum momento de solidão, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais safado, lembre-se de que estou toda aqui pra você.

Eu vou para a cama todo dia com 5 livros e uma saudade imensa de você ao invés de estar por aí caçando qualquer mala na rua pra te esquecer ou para me esquecer. E não me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por causa disso.

Te adoro, rabugento.

sábado, 27 de maio de 2017

Nuvem

Há mais ou menos um mês você me disse para eu refletir sobre meus desejos e expectativas, e sugerir algo que tendenciasse à minha felicidade. Eu estava esperando algumas coisas acontecerem antes disso: os shows do Anitelli e do Humberto - porque eu não queria ter a lembrança da sua ausência neles - e o Dia dos Namorados - para que você não tivesse alguma má impressão.

Eu fiquei MUITO chateada por você não ir comigo ao show de amanhã porque eu já havia falado dele há dois meses, e você disse que iria se pudesse reclamar depois. Fiquei chateada porque eu realmente esperava que você fosse comigo ao show do cara que é meu compositor favorito, que praticamente traduz minha vida nas suas letras e me comove com seus acordes no baixo.
Daí eu pensei que não devo mais postergar essa conversa, mas não sei quando te verei novamente e nem se conseguirei te falar. Então estou fazendo isso.

A nossa relação não tem nome e nem precisa de um. É uma junção de propósitos, um acerto sem denominações. Um relacionamento sem atualização de status ou aceitação alheia.

Eu gosto de você e de quem somos juntos, mas ainda me falta algo. Estarmos juntos é, ao mesmo tempo, suficiente e ultrajante, porque não consigo me alimentar de hipóteses e muito menos sobreviver de expectativas.

Quando eu te disse que não queria migalhas suas eu me referia à fragilidade e superficialidade. Eu me sinto uma nota de rodapé perdida na sua história, enquanto eu queria ser o seu marcador de livros favorito. Não falo em mudar hábitos ou rotinas, principalmente porque uma relação é composta de duas pessoas, dois indivíduos, únicos e raros, que tem suas próprias vidas, seus próprios objetivos e duas próprias escolhas.

Mas estar junto é também compartilhar nossa individualidade.

Eu sinto inveja quando comenta que saiu com seus amigos e Fulano e Cicrano levaram "as minas" junto. Sinto inveja porque eu também queria estar lá de vez em quando, compartilhando desse Pedro e desse mundo que desconheço. Fico pensando se você quer me esconder, se tem vergonha de mim - afinal, não estamos juntos há duas ou três semanas. São quase seis meses.

Me machuca quando você fala que tem "afeto" ou "apreço" por mim. Afeto e apreço são sentimento que tenho pelos meus amigos. Por você, não sei ao certo. Já te escrevi algumas vezes que estou apaixonada, e não consigo te dizer isso cara a cara porque tenho medo de não ver seus olhos castanhos brilharem nessa hora. Por duas ou três vezes eu te olhei e pensei "CARALHO, EU AMO ESSE HOMEM!". Isso é tão confuso! Confuso porque eu tenho tentado represar meus sentimentos, me sinto insegura e me apavora a ideia de não ser correspondida por você.

Procuro, a cada dia, matar o que sinto. Eu não quero perder meu tempo me esforçando para entrar em alguém que não tem espaço para mim.

Confesso que tenho uma esperança meio burra de que você queira fazer algo para me convencer de que vale a pena ficar. De que você corra até mim, me segure pelo braço e diga que precisa que eu continue acreditando. Eu queria que você não apenas me assistisse saindo, não me olhasse escorregando por entre seus dedos sem nem sequer tentar fechar a mão.

Não me deixa ir embora e acreditar que lá fora é melhor do que aí dentro porque​ não faz frio, não venta e nem é tão solitário. Não me deixa dar conta de que existem lugares dos quais você não faz parte e que posso ter esses lugares só pra mim se eu quiser. Eu desejo que você não me deixe querer.

Se uma mensagem sua demorar a chegar, eu passo por cima do orgulho e da simplória tentativa de saber quem errou primeiro.
E se sua mensagem não chegar nunca, eu deixo a minha aqui mesmo.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Eu quero você (,) como eu quero

Quero que você seja meu matador de baratas oficial.
Quero teu ombro tatuado pra deitar minha cabeça e dormir aos finais de semana - e alguns dias na semana também.
Quero passar a mão nas tuas costas indefinidamente e te ouvir dizer que parece um cachorro pedindo carinho.
Quero tua comédia bêbada acompanhada das risadas dos teus amigos.
Quero a construção da tua sonoridade pensada e repensada.
Quero te ouvir tocar num dia à tarde. Ou à noite. Ou de manhã. Ou todo o tempo.
Quero te apoiar e encorajar no seu sonho de Rock in Rio.
Quero te ver soar quando toca e suar quando ama.
Quero te ver suar quando toca e soar quando ama.
Quero muito que eu e você também sejamos nós.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

De tudo o que eu não consigo dizer

Calma. Me desculpa. Espera. Deixa eu tentar organizar o que quero dizer. Assim.

Aqueles finais de semana no seu apartamento, sabe? Noites com cerveja, vinho, cigarro, e suas músicas para distrair os momentos de silêncio. Talvez através da sua seleção eu soubesse melhor quem você é. Sei que naquela vez em que você me deixou esperando sem querer e que fui até você meio bêbada, meio brava, meio triste não teve cerveja e não teve música. Teve vinho e teve cigarro. Teve você, paciente e disposto. Tudo bem, não está mais lá quem ficou chateada e se embebedou.

Só que eu estou aqui. Querendo saber mais coisas remotamente pessoais sobre você sem que uma expressão de pavor cruze seu rosto. Então, com quantos anos você perdeu a virgindade? Já foi a algum show do Whitesnake? Você teve sarampo quando criança? Você foi criança um dia, não foi? Como era sua mãe? Você me quer apenas como sua garota de final de semana? Eu quero mais.

Eu sei o que você vai dizer. Mentira, não sei. Mas gosto de fantasiar alguma coisa mais ou menos parecida com “Já estamos juntos desde dezembro, não estamos? Você ainda quer que eu fale? Desculpe, linda, isso já é pedir demais. Pensei que minhas intenções estivessem implícitas”. Aquele seu jeito sensato, coerente e ao mesmo tempo delicado de esfregar a suas razões na minha cara. Odeio quando você está certo, coisa que acontece quase o tempo todo. Além do mais, não é justo. Você já me viu meio embriagada, sentada na sua cama, quase chorando de saudades de algo que eu nem tenho. Você já me viu chorando ao seu lado dentro do seu carro, no meio de uma conversa afetuosa, dramática e significativa, enquanto eu tentava fingir que você não é tão importante.

Enfim, em quatro meses você me viu chorando 43% do volume esperado para o ano inteiro. Mas é que, sei lá. Isso tudo, todo esse medo do nada-acontecer ou do tudo-acontecer-rápido-demais tem me deixado cansada. Nada demais. Você sabe montes de coisas sobre mim, muito porque fico tagarela quando fico tímida, porque sinto vontade de te contar toda a minha história e acho que está sempre faltando um algo mais – por que se contentar com o ótimo, se pode ficar perfeito?

Vocês meninos têm disso? Tipo, quando jogam videogame, desmontam motores ou fazem fogo, vocês trocam ideias, buscam saber o que o amiguinho acha a respeito disso e daquilo? Tudo bem, eu sei que não.

Pode ficar aí, na sua, quieto, não se faz necessário reunir forças para mover lábios e cordas vocais para responder qualquer coisa que seja. Não quero incomodar, mas, vai, solta pelo menos um murmúrio ou me manda calar essa minha maldita boca.

Passear pela calçada contigo tem a mesma sensação de ir a um bom restaurante concorrido. Na sua testa está escrito RESERVADO, e eu espero de verdade que o lugar seja meu. Sabe, eu tenho adorado sentar à sua mesa e experimentar sua comida bonita, colorida, aromática, sedutora e cheia de sabor. Nunca me importei muito com a receita, os ingredientes e a forma de preparo. De todos os locais onde jantei, todas as vezes evitei descobrir ratos e baratas e outras guarnições escrotas nos bastidores daqueles idiotas. Eu não queria me decepcionar. Mas contigo é diferente. Eu preciso saber. Como vou saber se estou pisando em ovos se você não me convida para conhecer sua cozinha?

Me diz alguma coisa, vai. Me fala tudo aquilo que eu ando louca pra ouvir da sua boca. Sussurra, então. Ao pé do meu ouvido, enquanto sua língua brinca com meu pescoço e minha mão corre pelas suas costas. Ou me ensina a receptar telepatia, esse idioma que só os inteligentes e evoluídos e incógnitos e brancas-nuvens conseguem decifrar. Porque eu já estourei minha cota de intuição.

Diz que me adora, que gosta de mim, que sente saudades minhas e uma vontade insana de me ver em plena quarta-feira. Sei que não muda nada, mas eu preciso ouvir. Ou isso, ou eu pego meu carro e dou o fora daqui. Agora. Sabe, não está dando muito certo, às vezes eu me sinto meio o Dick Vigarista gritando para o Mutley fazer alguma coisa. E você só olha meu desespero patético e fica me encarando com esses olhos castanhos que fazem com que eu perca minha linha de raciocínio e esqueça tudo o que eu planejei te falar. E então? Como vai ser?

Desisto. Eu acho, às vezes, que seria mais produtivo perseguir pombos em praça pública. Bem, eu só queria dizer que, apesar desse seu jeito todo iceberg de ser, eu te acho um rapaz incrível. Você é o melhor ser humano entre os piores que já conheci. Ou o pior entre os melhores. Não sei. Sei que eu inexplicavelmente estou na sua e você sabe disso. Não dá bola, assim que esse ataque ansioso e cheio de angústia cessar, eu sei, não vou me importar nem um pouco se você ficar na sua, se você não ligar de me aturar falando pelos cotovelos, deitada do teu lado.

terça-feira, 28 de março de 2017

Nota de agradecimento

Você não sabe, mas eu tentei fugir. Tentei me esconder, tentei escapar, tentei negar. E essa fuga quase desesperada foi o que me fez me achar. Me fez te achar. Fez com que eu me encontrasse em você e, finalmente, te encontrasse em mim.

Antes eu era preenchida com dúvidas e confusão e, depois dessa fuga desenfreada, eu encontrei a paz que eu procurava. Hoje sei exatamente o que sinto, o que eu quero e o que eu espero. Sei que tudo aquilo que eu achava que me incomodava é, na realidade, o meu refúgio.

Agora posso dizer, sem medo, que estou apaixonada por você. Apaixonada, com todas as letras, sons, cores, cheiros, sabores e texturas. Sinto que o que temos é bom, me faz bem, me alegra, me seduz e me faz sentir segura. Eu quero poder te proporcionar o mesmo: te fazer bem, te alegrar, te seduzir e te deixar seguro. Definitivamente não preciso de um título padronizado pelas regras e bons costumes, assim como não tenho a necessidade de atitudes que os outros esperam de mim ou de você. Eu gosto de quem somos quando estamos juntos, da sua risada fora de hora e de como eu continuo tímida ao seu lado. Eu gosto de saber - e sentir - que podemos ser transparentes e honestos um com o outro, de não haver jogos e nem chantagens emocionais. Nós apenas somos o que somos, e estamos ali.

Não sinto falta dos planos a longo prazo ou das expectativas simplesmente porque nós estamos aqui, vivendo isso e fazendo funcionar da forma que dá pra fazer, sem cobranças descabidas, sem compromissos frívolos e sem responsabilidades indesejadas.

Obrigada por me mostrar que isso é possível. Por me mostrar que é possível ser feliz dessa forma. Por me fazer sentir completa sem que eu precise sentir falta de algum pedaço meu.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Mudaram as estações

"Mas eu sei que alguma coisa aconteceu, está tudo assim tão diferente."

Eu cheguei ali, na beirada. O vento batendo em meus cabelos e o frio cortando minha pele enquanto eu estava borbulhando por dentro.

Olhei para baixo. Era só pular.

E eu não pulei. Continuei sentindo o vento e o frio, sem saber o que aconteceria. Era só pular, caralho! Eu fui covarde, confesso.
Tive medo, tive receio, tive confusão. Meu estômago revirava, minha cabeça dava voltas, minhas mãos suavam e minhas pernas tremiam. Eu sabia. Eu sempre soube.

Nada será como antes. Era só pular.

Dei as costas para o vale verde e florido com suas begônias exalando frescor e juventude enquanto meu corpo aquietava-se. Questão de tempo, tudo passa e esse tudo me faz esquecer tudo o que eu vi.

O vale. Era só pular.

Pela primeira vez eu não agi por impulso e pela primeira vez eu deixei que aquilo que eu trazia em mim se construísse por si só. Eu acreditava que isso faria com que suas bases fossem mais sólidas e me despi de meus conceitos, de meu orgulho, de minha bagagem. Eu só não esperava que as fundações dessa construção fossem tão voláteis. Eu não queria que fossem, eu desejei com quase todas as minhas forças que não fossem.

O desconhecido. Era só pular.

Chego a me estranhar por tamanha racionalidade travestida de impetuosidade. Enquanto eu me despia, me deixava ficar nua, eu me afastava. As cores já não são mais tão vibrantes, os cheiros já não importam, os sabores viraram mesmice, o toque já não arrepia e os sons tornaram-se uma canção de uma nota só.

Eu quis tanto. Era só pular.

Notei que não me importava mais tanto quanto antes. Eu tinha planos, tinha desejos, tinha expectativas... E minhas expectativas se demonstraram simples projeção, meus desejos passaram a ser meramente carnais e nos meus planos já não cabe você.

Era só pular, e eu fraquejei. Fraquejei porque o desconhecido e a incerteza não me seduzem mais.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Eu não gosto de "Dia da Mulher"

Você já viu violência de perto?
Violência emocional. Violência física. Violência sexual. Violência doméstica.

Eu já vi. Eu já vivi.
Eu tenho pesadelos.
Eu tenho ansiedade.
Eu me culpei.
A sociedade me culpou.

Eu sou estatística.

Ser mulher às vezes é um fardo. E significa ser muito mais forte.

domingo, 5 de março de 2017

Confete

Eu estava me arrumando para dormir quando recebi aquela sua mensagem na madrugada, que sim, literalmente me tirou o ar. Eu perdi o sono, perdi o fôlego, perdi o controle e me perdi em você.

Eu fico admirada com quem você é. Tão centrado, tão determinado, tão sensato, tão disposto. Você é uma pessoa única, muito rara, e eu me considero uma mulher de sorte por ter a oportunidade de compartilhar um pouco do seu tempo, da sua atenção, das suas ideias e da sua história.

Você tem sido meu primeiro pensamento ao acordar e o último antes de dormir. Sua voz, seus cheiros e suas texturas, tudo isso me encanta e me excita. Cada encontro que temos é como uma nova aventura a ser desbravada e cada despedida já me deixa saudosa antes mesmo de acontecer.

Quando estou ao seu lado, você faz com que eu me apresente sem máscaras e sem disfarces, na minha forma mais pura, e sim, mais vulnerável. E mesmo me sentindo exposta e indefesa, não me sinto incomodada - pelo contrário, você faz com que eu me sinta livre e leve. E eu gosto disso. Gosto muito.

Eu adoro estar com você. Eu adoro quem você é. Eu adoro gostar tanto de você.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Post Scriptum

Eu não queria me envolver. Eu não queria me perceber me apaixonando. Eu não queria nenhuma história.

Era pra ser só mais um match monótono nesses aplicativos de relacionamento. E, como sempre, eu nem dei atenção. Da mesma forma que não dei atenção para o que quer que tenhamos conversado nas mensagens do celular e da mesma forma que não notei que havíamos nos adicionados em redes sociais.

E foi uma curtida em um vídeo de alguém tocando baixo que te fez falar comigo depois de meses. Esse alguém tocando era você.

Conversamos muito, por longos períodos e dias a fio. Nos encontramos e temos nos visto com muita frequência desde aquele dia.

Eu não fiquei com mais ninguém desde então - ao contrário, tenho me esquivado de investidas. Me pego pensando em você ao acordar e antes de dormir, vejo diversas coisas que me remetem à você e encontro um milhão de bobeiras que quero compartilhar contigo. Sinto sua falta quando não nos falamos e me pego ansiosa pelo próximo encontro.

Eu não quero rótulos. Não quero títulos. E sabemos que estamos alinhados quanto a isso.

Eu tenho medo. Eu tenho medo de gente, eu tenho medo de me expor. Fico apavorada porque não consigo me expressar como eu gostaria e acabo por ser rude algumas vezes. E você me faz bem, você me faz feliz.

Estou lendo um livro e, numa passagem, a personagem principal é levada para dançar ao som de "Wonderful Tonight"; ela descreve o braço do companheiro em sua cintura, a leve pressão dos corpos e o arrepio que correu pelo corpo dela - pensei em você naquele instante e percebi que estou perdida.

Eu não queria criar expectativas.

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Amores plásticos

Não é de hoje que leio e escuto pessoas falando sobre a superficialidade das relações. De fato, estamos numa época em que as pessoas evitam se envolver e construir uma relação real.

O que muitas pessoas não percebem é que também estamos numa era em que as pessoas estão mais desesperadas por um relacionamento. Já não basta querer que o outro seja perfeito, este outro tem que querer estabilidade, monogamia e compromisso pra ontem. Com isso, perde-se a experiência da descoberta e da leveza, do cultivo do querer-bem, da desconstrução das expectativas e construção de objetivos em comum.

Somos pessoas, seres únicos, mas não devemos ser uma ilha. Temos nossos gostos, nossos interesses, nossas ambições, e, no entanto, muitos de nós acaba se recusando a ter seu mundo próprio compartilhado, considerando isso uma invasão. Há pessoas que acreditam que as coisas devam acontecer da forma e no tempo que elas querem, senão, dá trabalho, cansa e frustra.

Não existe nenhum relacionamento interpessoal sem frustrações. Elas acabam por acontecer, e é exatamente neste ponto em que deve-se avaliar a disposição em continuar investindo e construindo. Relações familiares, amigáveis e amorosas são assim, a gente vai desmontando paradigmas e conceitos enquanto vamos nos habituando ao outro e o que ele nos traz. Sem pressa, sem cobranças, leve e natural.

Existem histórias de pessoas que se encontram e já se encaixam; e isso é lindo - mas é exceção. A regra é dividir, compartilhar, comutar e não se fechar para o mundo e criar estereótipos infundados. O mundo já anda rápido demais, as pessoas já andam apressadas, queremos tudo de forma instantânea e pré-moldada.

Os amores plásticos, superficiais e impacientes surgem da ânsia em se ter um status de relacionamento e de se perder o foco na relação em si. Não devemos nos cobrar demais nem tampouco cobrar os outros demais. Tudo tem seu tempo, e com leveza fica mais confortável e mais fácil.

Seria ótimo se todos nós tivéssemos nosso tempo e déssemos tempo ao outro. As relações seriam menos superficiais e não veríamos essa crise emocional - despropositada - acometendo tantas pessoas.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Ás de Copas

Eu não consigo dizer o que sinto para quem tanto gosto. Engraçado, é só, sei lá, não consigo dizer. Acontece que quando alguém diz que não sabe demonstrar o que sente, soa como uma confissão, um pedido de ajuda. Quem fala isso é porque está sofrendo, mesmo que às vezes não saiba.

Eu sou o medo de sentir uma alegria que nunca senti, ou uma alegria que senti e perdi às vésperas de se tornar indelével. Eu sou a vergonha de ser, como muitos dizem, vulnerável ao amor, ou, em casos mais graves, uma conversa estreita entre o sentir e o orgulho de demonstrar. A necessidade de aceitação e o medo da rejeição, mesmo que eu não admita. Eu sou um medo tamanho mar-profundo, uma concha que, de tão fechada, ouve de todos por aí que é durona, sendo que, na verdade, só tenho pavor de perder a pérola que há dentro de mim.

Quando a gente diz, da maneira que for, o que sentimos para quem gostamos, a gente envolve aquela pessoa no nosso universo de maneira única. E, felizmente, o nosso universo engloba tudo o que há em nós; os afetos e desafetos, os defeitos escondidos e aparentes, as manias e as loucuras – omitir ao outro as nossas peculiaridades seria uma maneira muito pobre de gostar. Acontece que quando a gente sente que, além de pulsar, o coração formiga, queremos dividir com o mundo, gritar, olhar nos olhos e, sem medir a longevidade das palavras, transportar as formigas que aqui vivem para também conhecer o coração do outro.

Poucos sabem, mas existe uma parcela da vida muito bonita que permeia entre o dizer e o sentir. Sentir é maravilhoso, criamos lugares que nunca imaginamos dentro de nós – profundos, ricos, nossos. Mas, quando a gente fala o que sente, conseguimos transportar os nossos amores para um tapete mágico que, de tão mágico, pode nos levar para onde quisermos. Ver a alegria de quem a gente gosta estampada no rosto é um prazer muito maior do que “só” gostar por gostar; ter a sensação de estar se envolvendo é algo pequenino perto da euforia de dizer ao outro que ele está despertando algo em nós.

Eu ainda não descobri como é divertido dizer, sem pudores, o que se sente, e, pela linda mania que a vida tem de distribuir seus momentos, ter em troca um sorriso de reciprocidade. É como um bom dia com café quentinho e abraço com gosto de eternidade – mesmo que de eterno sejam só as lembranças. A verdade é que a gente perde muito tempo com medo. Perde amores, perde sensações únicas, sorrisos únicos e, por achar que, sei lá, não sei, não consigo, um dia se perde em saudades que, por sua vez, também serão únicas.

Querer ouvir tudo o que se quer, mas não querer falar tudo o que se sente, é injusto com os amores que passam; com os que ficam. Eu te gosto, eu adoro estar com você, foge comigo, estou tão feliz que você está aqui, desce rapidinho, estou com tanta saudade – são palavras que soam feito bálsamo para a alma de quem convive conosco. Uma pena eu não me enfrentar e descobrir como é louco e gostoso esse mundo das palavras que soam feito música.

E olha que eu sei que o tempo passa. Eu sei como a dor de não falar, em longo prazo, amarga a vida. Eu sei o quanto as próximas voltas desse carrossel dão medo. Muito mais medo. Então eu preciso parar de amar a saudade de um dia e começar a gostar de poder gostar, me envolver e falar disso agora

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Surreal. Que loucura, cara.

Nos últimos tempos eu venho atravessando mudanças significativas na minha vida. Meus conceitos, meu pré-conceitos, minhas crenças.

Há aproximadamente um mês eu venho na fase mais intensa destas mudanças.

Tenho sentido vergonha da forma que eu e meus amigos nos tratamos, usando palavras ofensivas que eu antes tinha como "uma forma íntima de tratamento". Tenho sentido vergonha da forma que eu pensava e da forma que eu usava pra me comunicar.

Hoje é meu primeiro dia mudando estas coisas que passaram a me incomodar, coroado com a mudança da minha alimentação. É chegada a hora de me desintoxicar da velha Luciara.

Coincidentemente, é começo de ano. Coincidentemente, é o aniversário da morte da minha mãe.

A mudança é necessária e inevitável, então eu decidi abraçar estes novos conceitos e comportamentos.

Eu tenho muito o que agradecer a algumas pessoas que potencializaram os eventos que me trouxeram a esta decisão. <3