quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Apaguem as luzes, por favor

A mulher de branco tenta me fazer engolir algumas pílulas, mas eu não quero. Tudo o que eu quero é sair desse lugar. Maldita enfermeira, quero que ela e os remédios dela fodam-se.
Eu não sou nenhuma maluca para ficar aqui, trancada entre almofadas brancas com esse avental ridículo que me deixa quase descoberta. Mas sei bem que é essa luz intensa que me enfurece.
O saquinho com líquido transparente acoplado ao meu braço mostra que ainda há algo nas veias. Quase sempre, sem ter o que fazer, gosto de olhar as gotas caindo como uma incessante ampulheta. O que esta ampulheta não sabe é que não é mais sangue que corre nessas veias. O coração morreu faz tempo, já não bombeia mais. Minha respiração é mero reflexo.

Preciso sair daqui, mais nada. Onde está a janela? Não existe mais contato com o mundo exterior.
Ninguém notaria que eu desapareci. No máximo, algumas pessoas confabulando a respeito da minha bunda aparente através do avental.

Só quero respirar, ser livre. Esquecer que isso tudo me asfixia.




Pensar nunca me leva a nada. Desde que cheguei aqui tive muito tempo pra pensar e nunca cheguei à qualquer conclusão decente. Então, paro de pensar. Quero ser burra. Quero ser cega, surda e muda. Assim deixo de perceber as sombras que me rondam.

Voltei a sentir o corpo tremelicar. Não sinto frio, nem calor, nem nada. Não sinto. Talvez seja o remédio, talvez seja a falta dele, talvez seja a indiferença.

Cadê os meus psicotrópicos?

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