quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Entrevista da santa que há em mim com a putinha que há em mim

- Bem, minha querida, podemos começar?

- Você não sabe o prazer que eu sinto, minha querida, de estar com você, apesar de nossas divergências. Vamos ao ponto, quero dizer, ao sexo...

- Meu anjo - se é que posso lhe chamar assim - não entendo esse seu jeito tão objetivo de entender o amor.

- Porque é simples! A gente nasce, cresce, escolhe um homem entre milhões de outros e casa com ele! A paixão é o sentimento de escolha de um entre milhões de homens, por isso é lindo. E escolheu, está escolhido. Aí a gente tira isso da cabeça porque dá um trabalho danado e vai cuidar das outras coisas: fazer uma casa bonita, ter filhos, profissão, ganhar dinheiro, pagar as contas em dia e tudo isso, uma delícia!

- Putinha, 27 anos, mulher. Quero trepar. Não penso em mais nada, quero trepar o dia todo. Não é de escolher que eu falo, é de sexo, já ouviu falar? Adoro quando alguém fica com tesão por mim e vice-versa. Eu me sinto muito atraída por ele próprio em si, em pessoa, o Pau. Ele tem algo de místico. É um guru calado. Que eu amo, independentemente do que está por trás. Que, aliás, em geral são pessoas chatíssimas, minha santa.

- Como adivinhou meu nome? Putinha, você está perdida. O mundo moderno te corrompeu. O sexo em si não é nada. Todos os homens são iguais, quer dizer, mais ou menos iguais e fazem as mesmas coisas, isto é, mais ou menos as mesmas coisas. O sexo é apenas um meio de comunicação entre as almas. O diálogo começa na prosa, depois se aprofunda, vira poesia, depois beijo,sexo e até filhos. Meio de comunicação.

- Como o telefone, o automóvel ou o fax? Senhores, não escutem nada do que esta débil mental emite. Isto não é uma mulher, é um freezer. Quem disse que eu não amo, santa! Deixa de ser burra, eu amo todos, um por um, louca e fielmente. Não posso ficar com um homem só. Neurotiza, asfixia, engorda, enfeia...

- Em primeiro lugar, não me parece que eu esteja assim tão neurótica, asfixiada, gorda e feia.

- Você vai ver daqui a uns anos.

- Agora chegamos ao ponto. Querer amar vários homens ao mesmo tempo não faz sentido, é querer seguir vários caminhos ao mesmo tempo, estar em duas camas ao mesmo tempo, é impossível. Pular de uma para outra é uma trabalhadeira, um inferno, é largar um homem para ficar com outro, depois outro, depois outro, é um lugar comum, é o que todo mundo faz, é repetir a mesma história, perder a chance de um aprofundamento, perder o jogo...

- Você deve ser péssima de cama.

- Mas atualmente é a mim que eles preferem, embora eu reconheça que você teve a sua época. Atualmente você os deixa inseguros, ciumentos e com medo de pegar Aids.

- Vamos parar de brigar! Temos que chegar a um acordo, antes que viremos sapatões! Talvez um dia, minha santa, olha que lindo!, eu consiga ficar tão puta, mas tão puta, putérrima, putéssima, metafisicamente putona... que eu vire uma santa.

- Ah, com que emoção eu ouço isso! Porque às vezes eu também penso... em ser tão pura e imaculada, bondosa e generosa, que acabe virando a rainha das putas! Com o homem que eu amo, claro.

- Já seria alguma coisa, afinal não se pode ter tudo. Me abraça , amiga.


** texto adaptado de Maria Mariana **

2 comentários:

Smiri disse...

Eita! Todas temos mais que uma santinha e uma putinha dentro da gente! rsrs
Bom, eu não tinha o que fazer e, ao me inscrever no "amigo secreto" cliquei no seu blog. Foi mais a título de "ser atoa" do que de curiosidade!

A minha sorte é que gostei muito do seu blog! xD

;*

Mila disse...

É adaptado pq vc adaptou ou já pegou assim?
É q faz algum tempo (acho q uns 12 anos) que dei uma folheada no livro onde tinha esse texto, mas na época não cheguei a ler inteiro e depois, como o livro não era meu, nunca mais pude ler.
Mas também não procurei mais. rs