sábado, 13 de setembro de 2008

Dream On

Passeando de moto, depois do banho de cachoeira:

- Já está tarde, quer que eu te leve pra casa? Ou quer aproveitar as estrelas?
- Estrelas, sempre! Ainda mais que não é toda noite que consigo sair sem esquentar a cabeça...
- Há lindas estrelas no céu, no imenso azul. Te aponto algumas.
- Deixe ver se ainda sei identificar o Cruzeiro do Sul... acho que é aquela constelação ali...
- Isso mesmo! Você é boa nisso.
- Fui escoteira.
- Que lindo...
- Adorava essa vida... mas sempre chega uma hora em que escolhas têm que ser feitas...
mas é nessas horas que eu gosto de encontrar o Peter Pan e ir pra Terra do Nunca... lembrar como era ser adolescente.
- Sim, Wendy. Quer ir pra terra do nunca comigo? Ou sua sensatez te pesa como grilhões em Londres?
- Eu diria que fico com um pé lá e outro cá.
- Eu fico com os dois lá... existir é uma aventura surreal, não se pode levá-la tanto a sério.
- Eu não levo... muito.
- Sabe, como na literatura... romantismo e realismo não são correntes artísticas meramente. São perspectivas de vida, ambas corretas. Infelizmente a revolução industrial e sua avidez por produtividade e rentabilidade suprimiu a perspectiva romântica e criou um romantismo de supermercado vendido em filmes baratos e literatura de baixo nível. É tudo realista, quando não cinicamente romântica.
- O pior é que somos meio que "lobotomizados" a procurar por esse romantismo de farmácia...
- Podemos rir destes mecanismos. Veja o que fizemos hoje: transformamos um elemento que desumaniza as relações humanas em uma construção a dois de um conto de amor. Subvertemos a impessoalidade.
- É gostoso fazer isso... mas sempre tem a "realidade" por trás de tudo... e ela sempre cutuca meu ombro pra eu não esquecer que ela está ali ao lado.
- Mas são só alter-egos. Podíamos ir além, sem grandes consequências. Deixe-se levar pela fantasia.
- Nem sempre é simples assim... gostaria que fosse... mas eu tenho "o poder" de complicar até as coisas mais simples.
- O medo é um freio desnecessário. A vida é para se machucar, para sentir dor. Você só sabe o valor do doce quando prova o amargo. É preciso se deixar viver. Ou você não é uma beatnik?

** e o passeio continuou, emendado em um agradável "você é libertária e reacionária, um paradoxo ambulante" **

Um comentário:

Mila disse...

Assim, sob as estrelas, até um papo mais "cabeça" ganha um ar de coisa fofa.
=)